Aparício Torelly, o Barão de Itararé, crítico viperino da República Velha, cunhou para o governo uma frase que parece feita sob medida para outros poderes e outras épocas. O problema do Brasil, dizia, não era “a falta de persistência; mas a persistência na falta”.
Se os ânimos prosseguirem como iniciaram, esse deverá ser o mote da atuação do Congresso na atual legislatura.
Oposição e situação precisam rever seus hábitos com urgência – se não por outro motivo, pelo menos para conter a erosão de prestígio do Poder Legislativo. A necessidade mais evidente de mudança de postura é a do PMDB.
Depois de iniciar uma discussão em torno do valor do salário mínimo (e, com ela, espalhar uma sensação de crise tão desnecessária quanto irreal), o partido revelou seu caráter.
A ideia dos peemedebistas que puxaram a discussão era mostrar descontentamento com o quinhão a eles reservado na partilha de cargos na administração. Após o pito do Planalto, que ameaçou tomar o que havia dado, o PMDB baixou o cangote e, com a docilidade de uma ovelhinha órfã, votou mansinho e em peso pelos R$ 545 estipulados pelo governo.
Atitudes como essa são lamentáveis sob qualquer ponto de vista. Teria sido mais digno levar a rebeldia até o fim – mas, diante do risco de perder os anéis, o partido achou por bem entregar os dedos, as mãos, tudo.
O pior é que os políticos da legenda não se emendam, persistem na falta e tentam levar para o Senado, onde a matéria será votada hoje, o mesmo ambiente de toma-lá-dá-cá. O alagoano Renan Calheiros, por exemplo, quer incluir na lei do mínimo um mecanismo que garanta para o salário reajustes superiores à inflação mesmo em períodos de queda da economia.
O problema, nesse caso, é a adoção de um princípio que força o aumento dos gastos públicos mesmo em caso de queda da arrecadação. É óbvio que isso não passará na votação de hoje, assim como não passou a ideia do mínimo de R$ 560.
O problema é que, ao agir dessa maneira, os peemedebistas dão argumentos aos que veem o Congresso como um balcão de negócios onde o preço do apoio é um cargo a mais para um apadrinhado.
Ao não ceder à chantagem dos peemedebistas, o governo deu um passo importante rumo ao amadurecimento da relação entre os poderes. Tomara que continue assim.
Fonte: Brasil Econômico, 23/02/2011
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