Daqui a pouco vai ter gente considerando uma catástrofe o fato de o emprego com carteira assinada, em janeiro de 2012, ter crescido menos do que em janeiro de 2011. Isso realmente aconteceu, de acordo com os dados do Ministério do Trabalho divulgados ontem.
Em janeiro deste ano foram criados pouco menos de 120 mil empregos com carteira assinada, enquanto no primeiro mês do ano passado surgiram mais de 150 mil novos postos com as mesmas características.
Se a comparação for feita com os números de 2010, então, a queda verificada é ainda mais vertiginosa. Em janeiro daquele ano, mais de 180 mil novas vagas foram preenchidas nas empresas.
A diferença em relação a este ano, como se vê, é de 60 mil pessoas. A questão central é exatamente esta: números sempre crescentes na criação de empregos acabam reduzindo, em algum momento, o ritmo das contratações.
O importante é perceber que, mesmo com a contratação de menos gente, o desemprego em janeiro deste ano (quando atingiu 5,5%) caiu em relação a janeiro do ano passado (quando foi de 6,1%).
Esse é o xis da questão e mostra que, na vida real, a economia continua indo adiante – muito embora previsões de que o pior está por vir surjam a todo instante.
O grande trunfo dos analistas que passam o tempo todo a prever catástrofes na economia é que, mais cedo ou mais tarde, eles acabam acertando alguma coisa. E é justamente por saber disso que a importância de números como o do nível de emprego é fundamental para a compreensão do momento que o país está vivendo.
Como se sabe, boa parte do momento favorável dos últimos anos deve-se ao fortalecimento do mercado interno – ou, em outras palavras, à expansão do emprego e do consumo.
Nesse cenário, a redução da taxa de desemprego, mesmo após uma geração menor de postos de trabalho na comparação com o ano anterior (se forem considerados os números absolutos), mostra que não existe risco de uma piora súbita na situação. Até aqui, tudo bem.
Tudo tranquilo, então? Não é bem assim. O principal receio por trás desse cenário é o de que números positivos como esses acabam gerando distorções que podem, no médio prazo, expor algumas feridas crônicas da economia.
A entrada acelerada de dólares no país acaba gerando uma valorização excessiva no real, e a persistência dessa situação é extremamente nociva à indústria nacional. A ação do Banco Central – que ontem comprou dólares para evitar que a cotação da moeda despencasse – mostra que o governo está, sim, atento aos movimentos e disposto a agir para impedir o pior.
Mas, por outro lado, também mostra a necessidade de uma política mais duradoura, capaz de impedir que ações emergenciais como essas sejam exigidas de vez em quando.
O que os números do emprego têm a ver com isso? Tudo. A grande quantidade de empregos criados nos últimos anos tem atraído trabalhadores menos qualificados, que atuam na construção civil e na base dos serviços.
Uma política industrial capaz de aumentar a competitividade da indústria brasileira teria como efeito colateral a geração de empregos mais qualificados, mais bem remunerados e com uma quantidade maior de benefícios. Que são os que garantirão que os números atuais sejam ainda mais duradouros.
Fonte: Brasil Econômico, 24/02/2012
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