O terremoto no Haiti deixou o Brasil em ruínas. Zilda Arns era uma mulher que dignificava um país.
A notícia de sua morte sob escombros de uma catástrofe natural parece coisa de filme. Impressionante demais para soar real. Um final trágico para uma vida épica, desses que pareciam estar escritos.
Zilda não foi uma representação da bondade. Isso era pouco para ela. Na selva da sociedade, no emaranhado do dissenso humano, a bondade tende a virar estandarte. Ou slogan. A missionária da Pastoral da Criança era, com todo respeito, endiabrada. Simplesmente fazia acontecer. Danem-se o gesto e a fotografia na parede.
Zilda Arns era bondade com malícia (no bom sentido), um furacão de criatividade e senso prático. A fina flor da política brasileira.
Articulou as forças certas em torno de soluções eficientes, fez chegar uma vida melhor a milhões de deserdados, deu uma aula ao Estado, à Igreja e aos partidos de como a coletividade pode socorrer os realmente necessitados. Injetou saúde e valores num exército de crianças paupérrimas. Produziu uma epidemia de dignidade.
De vez em quando se ouvia falar dela. Muito menos do que se deveria. E ela só falava o essencial. Não era movida pelo reconhecimento. Marchava inabalável com outro combustível, raro, que não oferece um pote de ouro depois do arco-íris: espírito público.
Fazia pelos outros porque tinha que ser feito. Seu coração mandava. Viveu para isso. E morreu fazendo.
Um pedaço do futuro do Brasil foi soterrado no Haiti. Adeus, Zilda Arns.
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