Por Tibério de Oliveira Salles
Não é necessário ir à Índia para ver o sistema de castas tão atuante e presente na sociedade.
Diferentemente deste país, cuja constituição já rechaça a perenidade de um sistema tão injusto e fatalista, no Brasil, com a conivência do Estado, a sociedade foi estamentada em duas classes: A classe dos funcionários públicos e dos privados.
Em recente pesquisa elaborada pelo Dieese, os servidores públicos ganham em média 98% a mais que funcionários da iniciativa privada. No entanto, em Brasília, essa diferença percentual é ainda maior. Certamente que na esfera do serviço público existem diferenças substanciais de cargo, tempo de serviço, e a qual vinculo empregatício determinado servidor é subordinado. O mesmo pode ser dito sobre a magnitude e complexidade dos trabalhadores da iniciativa privada. Contudo, a média corrobora a discrepância entre uma sociedade tão desigual quanto a brasileira.
A despeito do serviço que os funcionários públicos prestam à sociedade, a intenção aqui não é desmerecer suas atribuições e sua justa importância para o bem comum. Porém, o que se observa é que não é possível almejar uma sociedade mais igualitária quando se está diante de um fosso, onde as diferenças não terminam apenas nas disparidades salariais.
Feriados que transformam-se em férias, liberação do trabalho para cursos, certa flexibilidade nas jornadas de trabalho, recessos, estabilidade no cargo, etc., tornam ainda mais injustas as diferenças entre os dois grupos de trabalhadores.
Para os funcionários da iniciativa privada, cujos trabalhos movem através do imposto a máquina estatal, restam apenas longas jornadas de trabalho, poucas folgas, salários injustos, instabilidade nos postos de trabalho gerando angústia e o desejo incansável de pertencer ao grupo de servidores públicos.
Na Índia, passar de uma casta a outra é um fenômeno impossível. No Brasil, a quantidade de pessoas que buscam através do concurso público ter melhores condições de vida através do trabalho, assevera a lamentável realidade existente entre os dois grupos de trabalhadores. Contudo, mesmo que aqui ainda haja um viés pelo qual os trabalhadores possam mudar de condição, obviamente não haverá oportunidades para todos. A questão que se abre para um diálogo aberto e franco é: o que fazer para mitigar tão distinta realidade que cria buracos tão profundos entre os seres humanos?
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