Por Isabella Amaral*
O BRICS é um grupo econômico com caráter informal criado para ajudar países populosos com economias relevantes, mas ainda em desenvolvimento. Formado por Brasil, Rússia, Índia e China, tornou-se BRICS em 2011 com a entrada da África do Sul. De acordo com o governo brasileiro, “o diálogo entre os países se dá em três pilares principais: cooperação em política e segurança, cooperação financeira e econômica, e cooperação cultural e pessoal”. A primeira reunião formal do grupo ocorreu em 2006 e a primeira cúpula oficial, em 2009, focada nas discussões sobre as instituições monetárias. Posteriormente, as discussões expandiram, abarcando temas como desenvolvimento sustentável e integração cultural.
Para expandir sua influência, em 2024, mais 4 países foram incluídos no grupo: Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Além dos novos membros, o grupo também nomeou 13 países parceiros, entre eles Belarus, Cuba, Nigéria e Turquia. Os novos critérios de adesão aos BRICS garantem pouca uniformidade entre as nações, de forma que a principal similaridade se tornou o espírito reformista e o desejo de alterar o atual equilíbrio de poder global. Isso enfraquece os argumentos de que o grupo visa fortalecer economicamente os países e de que seus integrantes possuem similaridades que justifiquem a cooperação. Embora essa colaboração possa ser benéfica, pode ser interessante para o Brasil repensar essa aliança, vista a crescente divergência entre os membros.
Os BRICS buscam desenvolvimento socioeconômico, por meio da cooperação financeira, comércio entre os membros e redução da dependência do dólar e das instituições ocidentais. Para isso, criaram o Banco dos BRICS, como alternativa ao FMI e também houve a proposta de criação de um sistema alternativo ao Swift para facilitar transações e evitar sanções financeiras.
Defensores afirmam que essas ações promovem o desenvolvimento econômico. Porém, análises detalhadas sugerem que o objetivo central é enfraquecer o dólar e as instituições atualmente dominantes. A dominância internacional do dólar garante vantagens aos EUA, como receita e poder sancionatório. Por isso, o grupo deseja criar uma moeda única, como proteção à interferência ocidental. Entretanto, a adoção poderia gerar indisposição com os americanos, segundo maior parceiro comercial do Brasil.
Ademais, como o acesso ao crédito no FMI depende da aprovação do Conselho Executivo, eles podem ser barrados, e, por isso, os BRICS criaram o Arranjo Contingente de Reservas para ajudar os membros em crises de liquidez. Entretanto, os novos países não apresentaram nenhuma previsão de contribuição e apenas os EAU possuem recursos suficientes para compromissos financeiros significativos. Esse cenário coloca em dúvida se o apoio financeiro continua sendo prioridade na expansão do grupo.
Além dos esforços financeiros, a cooperação cultural é um dos pilares dos BRICS, pressupondo que a troca cultural entre as populações promova paz e prosperidade. Porém, se as diferenças atingirem os valores e princípios populacionais, elas podem impedir o entendimento e compreensão mútua, e a troca perde o sentido.
Para analisar o alinhamento cultural do Brasil no grupo, foram usadas as respostas da World Values Survey para calcular a distância cultural entre eles. As questões buscam entender aspectos socioeconômicos e políticos dos habitantes dessas nações e, ao serem comparadas, indicam quão similares os conjuntos de populações são.
Essa comparação não deixa dúvidas de que os integrantes do BRICS são culturalmente distantes do Brasil: os brasileiros se assemelham muito mais aos uruguaios e mexicanos do que aos russos e etíopes. E é importante ressaltar que nos assemelhamos mais aos americanos do que aos chineses. Por isso, surgem dúvidas: A cooperação cultural é válida em cenários como esse? Em uma possível guerra, nos aliaremos àqueles com princípios diferentes dos nossos? Os brasileiros querem apoiar estados com valores contraditórios aos seus?
Os BRICS também lidam com desafios políticos. Em atritos internacionais, EUA e União Europeia costumam ditar soluções que frequentemente desagradam os países emergentes, que enfrentam barreiras financeiras, tecnológicas ou institucionais. Nesse cenário, o pilar da cooperação política e de segurança dos BRICS visa alinhar os votos dos BRICS em decisões internacionais. Atualmente, um dos principais interesses do grupo é incluir mais um de seus membros no Conselho de Segurança da ONU, uma vez que apenas China e Rússia não alcançam a maioria dos votos nesse seleto comitê. Esse interesse também envolve a amplificação da força dissuasória contra invasões e ataques bélicos, como ocorre com a OTAN.
Entretanto, o Brasil já possui acordos com os Estados Unidos e com a União Europeia, ainda que não tão robustos quanto uma organização como a OTAN. Caso se alie em acordos de defesa mais formais com os BRICS, os atuais combinados de cooperação com o ocidente podem deixar de existir. Portanto, é importante que se pese o que é mais benéfico para o Brasil: as oportunidades de colaboração estratégica com os BRICS ou os benefícios consolidados do Ocidente?
A permanência do Brasil no BRICS deve ser reavaliada com cautela, porque há riscos associados à proximidade com os regimes autoritários, especialmente com a recente inclusão de novas nações no grupo. Embora haja benefícios em um relacionamento amigável com os BRICS, o caráter reformista e confrontador pode prejudicar o comércio brasileiro com nações ocidentais, sem vantagens grandes o suficiente para justificar a inclusão dos novos membros. Além disso, não há vantagens significativas o suficiente para justificar a inclusão dos novos membros. Portanto, pode ser interessante para o Brasil reavaliar sua estratégia, especialmente frente às instabilidades geopolíticas atuais.
Isabella Amaral é formada em Ciências Econômicas pelo IBMEC-BH e ex-diretora de Formação do IFL Jovem BH