Além da clareza e da objetividade com que o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, avaliou os resultados da visita da missão chinesa ao Brasil, nas páginas da edição de ontem do Brasil Econômico, existe um sinal ainda mais claro da evolução da política internacional do país desde a posse da presidente Dilma Rousseff.
Trata-se, evidentemente, da imposição das barreiras aos automóveis importados – medida que alcança, de forma especial, os carros fabricados na Argentina. Desde a criação do Mercosul, 20 anos atrás, o país vizinho tem sido um habitual descumpridor de acordos comerciais.
Nesse período, a Argentina tem se comportado como aquele cunhado irresponsável que um dia foi rico, torrou todo o dinheiro que tinha e, quando viu a situação apertada, passou a espernear e a fazer escândalo, como se o marido da irmã, que se mata de trabalhar, tivesse a obrigação de sustentá-lo.
O pior de tudo é que o Brasil sempre cedeu à choradeira. No caso dos automóveis, como nos demais, a Argentina nunca cumpriu aquilo que combinou no âmbito do Mercosul.
Sempre impôs as alíquotas que bem entendeu e tudo ficou por isso mesmo. Até que alguém em Brasília entendeu que o limite havia sido ultrapassado e resolveu dar um basta a essa situação.
Um primeiro sinal de que o Brasil pretendia mudar o tom de seu relacionamento foi dado ainda em janeiro deste ano, quando Dilma Rousseff desembarcou em Buenos Aires, na primeira viagem oficial de seu governo.
Muito embora o discurso oficial da chefe de Estado tenha batido na velha tecla diplomática de povos irmãos que precisam caminhar juntos, o certo é que, nos bastidores, os negociadores brasileiros, com uma nova orientação, deixaram claro que a paciência do Brasil estava se esgotando e que o novo governo não seria tão tolerante com a Argentina quanto foram os anteriores.
Parece que Buenos Aires resolveu pagar para ver, e o resultado foram as medidas que o Brasil adotou na semana passada.
Nesse cenário, chega a ser risível a reação da ministra da Indústria da Argentina, Debora Giorgi. Parece que ela não entendeu que o maior prejudicado nessa história toda é seu próprio país.
Ela também parece desconhecer que os problemas que a economia brasileira pode vir a enfrentar com as restrições às importações são insignificantes diante do estrago que a situação pode provocar à combalida e sempre claudicante economia argentina.
E disse que só se sentará à mesa de negociações se o Brasil recuar de sua posição atual.
Talvez ajudasse mais se cobrasse agilidade das autoridades aduaneiras de seu país, que desde fevereiro fazem o que podem para dificultar o ingresso de produtos brasileiros na Argentina. Se ela não quiser negociar, tudo bem. O mundo está cheio de parceiros dispostos a negociar com o Brasil.
Fonte: Brasil Econômico, 18/05/2011
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