* Por Arthur Lula Mota
A semana passada foi agitada no mercado financeiro. Muito barulho, muito estresse e preocupação, surgindo cenários parecidos com “O Fim do Brasil”. Terminou com nosso banqueiro Ilan usando sua marreta para controlar os ânimos que estavam focados em cima de nossa moeda.
Desde o início do ano estamos colecionando notícias ruins: a não reforma da previdência, a frustração da recuperação econômica, greve dos caminhoneiros, mudanças no cenário internacional e os resultados preliminares das pesquisas eleitorais.
A janela de oportunidade está se fechando para o Brasil e os resultados para esse ano estão sendo continuamente revisados para baixo. Até pouco tempo, havia uma porção de projeções para o PIB gravitando em torno dos 3,0%, agora já estamos caminhando abaixo dos 2,0%.
Leia mais da parceira com o Terraço Econômico:
A paixão do brasileiro por soluções fáceis, rápidas e (quase sempre) ineficientes
“Tão roubando a gente”: como a corrupção afeta a economia
Esse cenário ainda não chegou completamente no Boletim Focus, mas os principais bancos já anteciparam sua revisão. Dito isso, uma pergunta tem surgido em alguns lugares: O Brasil pode voltar para a recessão?
Bem, tecnicamente a recessão é caracterizada por dois trimestres consecutivos de queda do PIB, como ocorreu a partir de 2014 (segundo trimestre). Não precisamos necessariamente que o PIB do ano apresente contração para que se caracterize uma recessão, até por que ele pode trazer um carrego estatístico[1] positivo do ano anterior, o que possibilita crescimento no ano mesmo com retração nos trimestres.
Costumamos avaliar e dar mais peso para a tendência, como bem faz o CODACE, que analisa todos os ciclos econômicos do nosso país. Tentamos reunir o máximo de informação disponível e elencar cenários razoáveis e ponderá-los.
O fato é que o segundo trimestre será muito ruim. Já estava com este encaminhamento antes mesmo das paralisações e piorou depois delas. É bem possível que tenhamos um resultado próximo de zero em seu PIB, podendo ser este resultado até de contração.
+ Rolf Kuntz: Um governo sem rumo e sem autoridade
Num cenário otimista, para que possamos crescer 2,0% ainda esse ano, seria necessário um crescimento médio próximo de 0,70% do segundo ao último trimestre do ano, o que dado a fraqueza do segundo trimestre (0,0%, por exemplo), exigiria um crescimento hercúleo de 1,0% no terceiro e quarto trimestres.
Já num cenário mais factível, um crescimento próximo de 1,5% exigiria uma média de crescimento próximo a 0,40%, curiosamente a mesma taxa verificada no primeiro trimestre. Já num cenário pessimista, onde cresceríamos praticamente zero daqui até o fim do ano, o PIB crescerá apenas 1,0%.
Fonte: IBGE. Elaboração própria.
Assim, considerando esses cenários e as informações disponíveis até aqui, podemos dizer que o cenário pessimista é muito mais provável que o otimista, e que ele poderia contemplar sim dois trimestres consecutivos de queda, o que fortaleceria a hipótese do double dip. Haveria um forte impacto na confiança e a economia poderia voltar a patinar.
O fator decisivo para qual cenário deve se concretizar é óbvio: as eleições. Tudo vai depender de quem assumir a faixa presidencial, e as pesquisas atuais não conseguiram sinalizar muita coisa. Um presidente pouco inclinado a reformas, sobretudo da Previdência, provavelmente já enfrentaria em seu primeiro ano uma crise de confiança e econômica.
+ Samuel Pessôa: Não estamos nos anos 1990
Nesse cenário de estresse e incerteza, é muito mais fácil para o setor produtivo voltar a reduzir sua capacidade e aguardar, lembrando que essa se recuperou muito pouco desde o fim da crise. São vetores tão negativos que conseguiriam se sobrepor ao baixo patamar de juro e a inflação controlada, e, nesse sentido, as curvas de juros longas já começam a sinalizar uma forte insegurança.
O ano de 2018 estaria salvo de apresentar retração por conta de algum carrego estatístico positivo de 2017, mas 2019 estaria comprometido. O cenário, caso algum presidente não reformista seja eleito, é muito diferente do americano, onde um aventureiro assume uma economia que estava bem próxima de atingir o pleno emprego e muito mais equilibrada do que aqui.
Por isso é muito importante que os candidatos que estão liderando as pesquisas assumam de forma bem clara suas posições, sobretudo no campo fiscal, para reduzir o máximo possível a assimetria de informação.
Apesar de descrever tal cenário tenebroso, particularmente não acredito nele. A agenda fiscal transcende partidos e vai acabar pressionando qualquer um que assuma o cargo. Políticos são ‘animais’ que fazem de tudo pela sobrevivência, inclusive cometer estelionatos eleitorais.
Voltando para crise ou não, a questão ainda maior é que o Brasil segue patinando e sem perspectivas de voltar tão cedo para o patamar de riqueza que havia conquistado antes de toda essa bagunça.
Fonte: “Terraço Econômico”, 11/06/2018