O governo faz esforços para corrigir políticas econômicas equivocadas e avançar com reformas, visando a estabilizar o ambiente macroeconômico. Para alguns, a estratégia é equivocada. Para outros, é insuficiente, já que um ambiente macroeconômico saudável não garante o crescimento sustentado. Mas é o alicerce. Poderemos nos surpreender com os frutos da estabilização da economia.
Um quadro instável, com inflação e juros elevados, desestimula o investimento e a geração de empregos. Além disso, reduz a eficácia das políticas públicas e desvia a agenda econômica do objetivo de promover um ambiente pró-crescimento e equidade.
Na origem de desequilíbrios macroeconômicos há, com frequência, um regime fiscal desestabilizador, que é quando o aumento da dívida pública é de tal ordem que desperta desconfiança quanto à capacidade do governo de honrá-la. Esse é o fantasma do Brasil do passado ressuscitado na gestão Dilma. Abusamos de estímulos fiscais e mergulhamos na armadilha de inflação elevada e recessão.
Arrumar a macroeconomia vale a pena. O governo Temer já colhe resultados dos esforços, alguns iniciados na gestão Dilma ainda que claramente insuficientes. Apesar da fragilidade da economia, a inflação cede, bem como as expectativas inflacionárias, e, consequentemente, a taxa de juros do Banco Central. Quadro bem diferente daquele do início de 2016, quando se discutia a necessidade de elevar ainda mais a taxa de juros para conter a inflação, que ameaçava subir em espiral.
A queda da inflação é o primeiro sinal de acerto da estratégia do time econômico, apesar de equívocos como os ajustes de salários de servidores públicos e os reveses na renegociação da dívida dos Estados. A febre cede e reforça o diagnóstico de ajuste fiscal como instrumento para sair da crise.
Quanto os juros poderão cair? Pelos parâmetros do passado recente, a política monetária no “ponto morto”, sem estimular nem contrair a demanda, implicaria taxa Selic pouco acima de 9,5%.
Mas podemos ir além, sem que isso produza pressão inflacionária. A razão é que a taxa de juros de equilíbrio (aquela necessária para manter a inflação estável) está provavelmente em queda em função da nova agenda econômica.
Do lado macroeconômico, há reformas estruturais (regra do teto de gastos e reforma da Previdência) para estabilizar o regime fiscal e, no futuro, elevar a poupança na economia e uma gestão responsável e transparente da política fiscal, sem pedaladas e com redução de restos a pagar após anos de aceleração. Do lado microeconômico, maior racionalidade e autonomia de estatais e bancos públicos, além de mudança de regras do pré-sal e retomada de leilões de infraestrutura.
É possível que o espaço para relaxamento monetário seja quase proporcional ao de 2005-07, quando o BC cortou a taxa Selic em 8,5 pontos porcentuais em dois anos, partindo de 19,75%.
São momentos diferentes. Lá atrás, o quadro fiscal era mais favorável com dívida pública em queda. Por outro lado, a economia estava aquecida, com baixa ociosidade e desemprego em queda. O oposto de agora.
Em comum, ambos os períodos são de fortalecimento de fundamentos. No Lula 1, agenda microeconômica e melhora dos fundamentos externos. Agora, ajuste fiscal. Além disso, um BC com credibilidade e expectativas inflacionárias em queda.
O cenário não deixa de ser desafiador. A política monetária é melindrosa. A janela para afrouxamento se fecha diante de turbulências políticas, erros de política econômica e perda de confiança no governo. O corte de juros não pode ser fruto de voluntarismo, mas sim de oportunidade construída.
O espaço para redução da Selic pode surpreender – quem sabe uma taxa em torno de 7,5% – com importante impacto na economia. Contribuindo ainda para avançar na agenda microeconômica pró-crescimento. Primeiro, o alívio depois de sufocantes equívocos. Depois, a chance de um ciclo virtuoso.
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