No mundo dos negócios, existem duas formas bastante diferentes de pensar a estratégia de uma empresa. A mais convencional é considerar rígidas e bem definidas as fronteiras da indústria ou do setor a que essa empresa pertence. Os competidores se enfrentam e disputam mercados já estabelecidos. É como se o mundo tivesse parado para assistir a uma disputa entre adversários tradicionais num jogo cujas regras todos conhecem. Nada mais longe da realidade que essa visão estática.
E, em consequência, nada mais inadequado para a formulação da estratégia da empresa. Como argumenta Gary Hamel, em Liderando a revolução (2000), “a desregulamentação, a globalização, as privatizações e as novas tecnologias simplesmente dissolveram as fronteiras industriais antes estabelecidas”.
A forma revolucionária e mais relevante de pensar a estratégia de uma empresa, portanto, não é mais disputar mercados estabelecidos com produtos conhecidos contra antigos concorrentes. Mas sim inovar com produtos e serviços inéditos, de modo a criar também novos mercados.
“A competição que faz diferença é a do novo produto, da nova tecnologia, da nova fonte de suprimentos, do novo tipo de organização empresarial. É essa a competição que resulta na vantagem de custo ou de qualidade. É essa a competição que atinge não apenas a produção e as margens de lucro das companhias existentes, mas principalmente seus alicerces e sua própria sobrevivência. Esse tipo de competição é muito mais eficaz que a competição de preços entre companhias semelhantes”, afirma Joseph Schumpeter, em seu formidável Capitalismo, socialismo e democracia (1942).
A globalização dos mercados e a revolução da tecnologia da informação dispararam o processo schumpeteriano de destruição criadora. A reestruturação, a consolidação e a reinvenção de setores inteiros é um fenômeno irreversível. A avalanche de fusões e aquisições reflete uma busca por ampliação de mercados e redução de custos, redesenhando os setores industriais e inovando os setores de serviços.
Há fundos acampados em cada universidade privada. Eles exigem melhor gestão e mais transparência
As tecnologias disponíveis, as técnicas gerenciais alternativas, os diversos modelos de organização corporativa e os recursos convencionais, como capital e trabalho, podem ser combinados numa infinidade de alternativas, cada uma sob a forma de uma empresa. A competição entre essas inúmeras tentativas empresariais resulta num processo de seleção por eficiência, num algoritmo evolutivo que assegura a sobrevivência das estratégias mais eficazes. O importante é manter abertos os canais de acesso aos mercados: a livre entrada de novos competidores.
Um setor que será inteiramente redesenhado é o educacional. De novos investimentos em educação depende tudo o que desejamos para o Brasil. Melhores oportunidades de emprego. Maiores salários. Capacitação para absorver tecnologias existentes e criar novas. Melhor distribuição de renda. Desempenho econômico superior. Melhor qualidade de vida.
E como andam os investimentos na indústria educacional? Abaixo da superfície de aparente tranquilidade, há um ambiente agitado. O setor caminha para uma reconfiguração. A demografia, as políticas públicas, o reposicionamento das grandes redes privadas de ensino, a maior penetração de grupos estrangeiros e as novas tecnologias eram forças já conhecidas atuando no universo educacional. Pois agora entra em cena um novo choque que era ainda ensaiado, caso particular do fenômeno mais abrangente das altas dos mercados acionários globais: a invasão dos financistas, o choque de capitalismo.
Há banqueiros e fundos especializados acampados em cada universidade privada, com empréstimos-ponte e capitais de risco para financiar aquisições. As promessas são a expansão dos investimentos e a educação de qualidade a preços acessíveis para todos os brasileiros. Suas exigências são a melhoria da gestão, a maior transparência e a melhor governança nos empreendimentos educacionais.
Fonte: Revista Época, publicado em 12 de Outubro de 2009.
No Comment! Be the first one.