Da análise da tragédia que ocorreu recentemente no Chile, país com históricas ligações com o Brasil e membro do Mercosul, ficam duas grandes indagações: a primeira, é como o terremoto afetará a economia e sociedade chilena no futuro próximo, e a segunda, como as instituições internacionais podem se preparar de forma mais eficiente para a mobilização de recursos necessários em catástrofes naturais dessa proporção, e para a reconstrução econômica desses Países, pois essas catástrofes são também um forte fator de retrocesso no nível de desenvolvimento e qualidade de vida das populações.
O Chile virá com uma nova Presidência a partir de março; há um forte componente de solidariedade interna e convergência em torno de ações prioritárias para o País. As instituições chilenas da fase pós-Pinochet são sólidas e a estrutura do governo geralmente bem organizada, principalmente se comparada a outros países da América Latina. Mas não há dúvida de que as perdas em infraestrutura, redirecionamento de investimentos e de capital humano afetarão os rumos do país na próxima década, principalmente o seu desempenho econômico.
Quando do Grande Terremoto chileno de maio de 1960, que atingiu 9,5 pontos na escala Richter, cidades como Concepción foram igualmente impactadas, com um total de 6 mil mortos e 2 milhões de feridos em todo o Chile. Na ocasião, os investimentos necessários para a reconstrução da infraestrutura do país foram calculados, se atualizados em valores de hoje, entre US$ 3 e 6 bilhões. A própria Copa do Mundo de 1962 foi, inclusive, realizada sob o espírito de “reconstrução”. A economia chilena passou a recuperar-se apenas em meados da década de 70, sendo que durante a década de 60 o cotidiano e a economia foram seriamente afetados pelas consequências do terremoto.
Mesmo que na gestão de crise e de informações à população tenham ocorrido falhas graves, o total de mortos e feridos em 2010 foi bastante inferior à tragédia de quase 50 anos atrás, em parte devido à preparação pré-existente e maior resistência das construções. As cidades chilenas deverão buscar uma reconstrução baseada no que há de tecnologicamente mais moderno na prevenção das consequências de novos abalos sísmicos, o que envolverá forte cooperação internacional e investimentos estruturais. A maior complexidade econômica e tecnológica da sociedade chilena demandará investimentos possivelmente superiores aos de 1960. Onde e como os países do Mercosul, por exemplo, pretendem e podem efetivamente colaborar nesse esforço?
Terremotos, como no Chile e no Haiti, tsunamis, grandes enchentes são tragédias com consequências locais e globais e desafiam as instituições mundiais sobre como preveni-las e remediá-las. Em um mundo que luta contra a pobreza e que trava o desafio diário da sustentabilidade e segurança climática, os mecanismos de financiamento e seguro “coletivo” também devem ser repensados e ampliados, para que as ações de resgate e assistência ganhem agilidade e transparência e haja um instrumento eficiente e transparente de financiamento da reconstrução e das condições de estrutura e prevenção dos países afetados.
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