O economista Michael Feroli, do J. P. Morgan, assim falou sobre os novos índices do ISM – Institute for Supply Management: “Agora estamos (nos EUA) começando a sentir a infecção”. Ele reflete a mudança de opinião da maioria dos analistas, que vinha, até então, excetuando a economia americana do rol das mais afetadas pela crise europeia. Agora não mais.
O desapontamento geral veio do índice ISM, que caiu do patamar de 53,5 em maio para 49,7 em junho, cruzando a barreira do escore de 50 pontos (mais de 50 pontos, expansão; menos de 50, contração). O fenômeno se repete na Europa e na Ásia.
A pesquisa traz mais aberturas importantes: a medida de novas encomendas, que vinha na casa dos 60 pontos, despencou para 47,8 – o recuo mais forte numa década. E as encomendas do exterior declinaram de 53,5 pontos para 47,5.
Os segmentos em contração mais expressiva foram os ligados ao mundo das commodities, cujos preços vêm derretendo em velocidade assustadora, afetando, sobretudo, as indústrias de petróleo, plásticos e produtos químicos.
Na esteira desse recuo está a redução significativa do crescimento de vários emergentes, sobretudo da China e Índia. Nesta última, a crise de confiança é tão aguda que o primeiro-ministro Singh resolveu assumir, pro tempore, a pasta das finanças, de onde é egresso.
A economia americana segue sendo um problema menos grave do que a europeia. Contudo, é a velocidade da parada múltipla na demanda de vários países, todos ao mesmo tempo, que torna o cenário à frente muito grave.
Este aspecto foi ressaltado na fala do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no evento conjunto da Fiesp-Lide, esta semana.
Ele deixou claro o grau de preocupação do governo com esta nova etapa da crise, embora o Brasil, segundo ele, tenha condições de resposta muito melhores e diferenciadas, pelo grau de estabilidade alcançado por nossos principais indicadores fiscais e de dívida.
Sem tirar a razão do ministro, tanto em relação à intensidade do novo choque quanto à capacidade de resposta da economia brasileira, é preciso lembrar que nosso país sofre de uma síndrome de improdutividade em grau máximo, por ser um dos que mais escalou sobre o bolso do contribuinte.
Se, de um lado, garantiu nível invejável de (quase) equilíbrio às contas públicas e redução significativa do endividamento interno, por outro lado a avalanche fiscal não é tão indolor e vazia de consequências como se dá a entender pelas falas oficiais.
O aumento incessante da carga tributária, que propiciou o ajuste fiscal do Brasil, agravou em igual medida a fragilidade financeira do setor privado, cujas empresas perderam boa parte de sua capacidade de investir.
A geração de caixa é comida, no nascedouro, por uma multiplicidade de tributos, que não encontra paralelo em nenhuma outra economia séria ou, inclusive, nas mais desorganizadas e rústicas.
Este verdadeiro “moedor de eficiência empresarial”, ligado 24 horas a fio em 220 volts, que devora a produtividade geral da nossa economia produtiva, pode colocar o Brasil como um dos mais vulneráveis na nova onda da crise mundial.
Daí a urgência de medidas estruturais no campo fiscal, que o governo ainda reluta em tomar. A sociedade brasileira, pagadora da conta final, tem que se mexer, se não quiser perecer.
Fonte: Brasil Econômico, 06/07/2012
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