Os especuladores puros consideravam as ações nada mais do que pedaços de papel, veículos para apostas em dinheiro cujo valor depende apenas do que o próximo comprador estiver disposto a pagar. O importante era ficar de olho nos preços, adivinhando o que fariam os outros “investidores”. “Ninguém sabe realmente quando uma ação está cara ou barata. O que importa são as opiniões, as expectativas, a psicologia do público, as ondas de otimismo e pessimismo”, advertia Gerald Loeb em seu popular “A batalha pela sobrevivência nos investimentos” (1935).
Mas surgiu também em meio à Grande Depressão a obra “Análise de investimentos” (1934), de Benjamin Graham e David Dodd. Esses autores forneceram, segundo Roger Lowenstein, em “Buffett, a formação de um capitalista americano” (1996), “o primeiro mapa confiável desse extraordinário universo proibido, o mercado de ações. Alertavam os investidores que o importante não eram as cotações dos papéis, e sim os negócios subjacentes àqueles certificados de propriedade representados pelas ações. O foco eram os ativos, os lucros futuros e o valor intrínseco da companhia, que poderiam ser às vezes bem diferentes de sua atual cotação em bolsa. A arte de investir seria identificar essa discrepância, aproveitando-se, quando os preços de mercado estivessem bem abaixo do valor intrínseco da companhia, para comprar e esperar até que o mercado corrigisse seu erro de avaliação”.
Essa é uma clássica disputa entre os especuladores, que tentam antecipar a direção dos mercados, e os analistas, que examinam os fundamentos das empresas. Há diferenças nos horizontes de investimento e nas habilidades exigidas para cada ângulo de observação. E, naturalmente, à luz do crash das bolsas e do crunch do crédito, um economista de boa estirpe diria que os fundamentos macroeconômicos são ainda mais importantes. A suposta eficiência dos mercados na determinação dos preços das ações é apenas uma hipótese, uma propriedade assintótica, um estado eventual do sistema depois que todas as arbitragens e os lucros decorrentes das assimetrias de informações e de formação tiverem atuado.
O colapso das bolsas dificulta o crescimento econômico. Se as fábricas e as plantas industriais já existentes estão cada vez mais baratas, e se as perspectivas de vendas e lucros são declinantes, qual é o sentido de disparar novos empreendimentos? Há um desestímulo aos investimentos das empresas, sob a forma de ampliação das fábricas, de instalações industriais e compra de novas máquinas e equipamentos. Em vez das ondas de IPOs (ofertas públicas iniciais, na sigla em inglês), como são chamadas as emissões em bolsa das ações dos novos empreendimentos, o que temos agora são ondas de M&As (fusões e aquisições de empreendimentos já existentes), em um esforço de consolidações e ganhos de escala. O ímpeto de crescimento dá lugar à necessidade de sobrevivência.
(O Globo – 15/12/2008)
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