A mídia relata diariamente a agonia do mais complexo organismo vivo, à exceção da própria biosfera. Há desarranjos na engrenagem da economia global, com mais de 7 bilhões de seres humanos conectados em gigantesca rede de produção e distribuição de bens e serviços. Trata-se da mais sofisticada estrutura social jamais construída. Ninguém a concebeu, ninguém a comanda, todos se adaptam.
A Europa, prisioneira da jaula do euro, permanece em contração. A social-democracia quebrou seus governos nacionais. Os Estados Unidos experimentam o esvaziamento de sua frágil recuperação econômica. Os financistas quebraram seus bancos. E as economias emergentes enfrentam forte desaceleração, disparando novamente políticas contracíclicas em busca do crescimento perdido. Com esse pano de fundo, quais seriam as possibilidades de crescimento da economia brasileira?
Com a queda dos juros e a alta do dólar, estaria encomendada uma reaceleração econômica para o segundo semestre de 2012 e maior ritmo de crescimento para o ano de 2013. Mas o problema dos remédios contracíclicos convencionais é que seus efeitos são transitórios. Limitam-se à maior utilização de uma capacidade produtiva já instalada. Não removem os males da ineficiência e da má alocação dos recursos produtivos. Nem promovem uma dinâmica de acumulação desses recursos de modo a garantir uma contínua ampliação da capacidade produtiva. Para remover os obstáculos institucionais e destravar a dinâmica de crescimento, se exigiria um choque de produtividade, com o aprofundamento das reformas de modernização. Algo que uma aliança oportunista entre uma “direita” conservadora e uma “esquerda” anacrônica nunca pôde oferecer.
Deflagramos à base do crédito popular a criação de um extraordinário mercado de consumo de massas. Mas observamos um flagrante processo de desindustrialização, ao mesmo tempo em que disparam nossas importações. Pois o capitalismo eurasiano, sem encargos trabalhistas e previdenciários, representa uma dupla ameaça: pode nos reduzir a um simples produtor especializado de commodities, e também a um mercado de importações em massa. O grande desafio é tornar o país um verdadeiro mercado de produção em massa, com investimentos maciços em educação e treinamento, ampliando capacitações e habilitações do trabalhador brasileiro para sustentar o aumento contínuo de nossa produtividade.
Fonte: O Globo, 16/07/2012
Educação e capacitação não bastam para um desenvolvimento sólido e duradouro do país. Pois o crescimento do mercado depende muito mais das políticas públicas que estimulem a ampliação da oferta de trabalho. Mais empresas, mais oferta de emprego..