Esta data, no ano passado, foi um dia que jamais deve ser esquecido por mim e por muitas outras pessoas ao redor do mundo. Eu estava monitorando o que estava acontecendo no Irã e o vídeo de Neda apareceu. Enquanto olhava o vídeo, lembro de ter gritado “não, não, por favor, não a deixem morrer”. Eu esperava que as pessoas que a estavam socorrendo e os que estavam pressionando seu ferimento para estancar o sangue dariam um jeito de salvá-la. Mas quando vi o sangue jorrando da boca de Neda por todo seu rosto, meus berros de “Não, não, não” assustaram os outros da casa. Seu último olhar me assombrou, como se estivesse me pedindo para fazer algo.
Desci as escadas e vi as notícias na BBC que inacreditavelmente diziam: “Houve ALGUNS relatos de tiros em Teerã”. Quê?? “Alguns relatos de tiros” em Teerã? Pessoas estão sendo assassinadas e eles estão simplesmente supondo que aconteceram “alguns tiros”? No momento seguinte eu estava ao telefone reclamando com eles: “Quantos iranianos terão de ser mortos para que vocês digam algo?”. Então liguei para o maior número de pessoas possível pedindo para que também reclamassem com a BBC. Naquela noite, algumas agências de notícias divulgaram o assassinato de Neda e eu estava nos estúdios da Al-Jazeera, furioso, pensando que mais uma vez o assassinato de inocentes filhos e filhas do Irã passariam batido pela comunidade internacional. Entretanto, eu estava errado. O assassinato de Neda não poderia ser ignorado pela mídia. Desta vez, não havia desculpas para eles. A morte de Neda danificou a República Islâmica aos olhos do mundo sem chances de reparo. Nem mesmo seus mais prolíficos apologistas ou seu sofisticado aparato de lobby ou sua propaganda nos canais de TV poderiam salvar o regime deste dano. A gravação dos últimos momentos de vida de Neda a transformaram num símbolo de liberdade. Neda nasceu de novo para sempre.
Publicado no blog de Potkin Azarmehr
Tradução: Cristina Camargo
O dia em que Neda foi morta: http://www.imil.org.br/blog/o-dia-em-que-neda-foi-morta/