O primeiro turno das eleições ficou no passado e agora, tão importante quanto o resultado, é pensar no recado que o eleitor deixou nas urnas. E, sem querer particularizar o exemplo da cidade mencionada na letra da canção que fez sucesso na voz de Caetano Veloso nos anos 1980, o recado é claro: “Basta de filosofia. A mim me bastava que o prefeito desse um jeito na cidade da Bahia”
Este é o xis da questão. O eleitor brasileiro, por mais que se imagine o contrário, não vota em prefeito com os mesmos critérios que utiliza para escolher seu candidato a presidente da República. Ou a governador.
Ao eleger o governante de sua cidade, o eleitor está pouco interessado em saber se ele vê os Estados Unidos com simpatia ou se aplaude o venezuelano Hugo Chávez. Também não vale, pelo menos para a maioria dos eleitores, a opção religiosa do candidato.
Por menos que os analistas políticos gostem, a verdade é que a escolha do prefeito se dá pela percepção da capacidade do candidato em resolver os problemas do trânsito, melhorar a qualidade da educação, tirar a sujeira das ruas e construir obras que melhoram a vida das pessoas.
Aliás, a diferença entre a natureza das necessidades municipais daquelas que cercam o pleito federal e os estaduais foi a justificativa para o descasamento dos mandatos dos prefeitos em relação aos dos presidentes e governadores.
Essa característica vem se cristalizando à medida que a democracia se consolida no Brasil. Nem sempre foi assim, claro. Em 1988, Luiza Erundina, então no PT, não era a favorita para suceder a Jânio Quadros na prefeitura de São Paulo.
Dias antes do pleito, no entanto, a morte de três operários por soldados do Exército chamados para reprimir uma greve na CSN (então uma empresa estatal) em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, gerou indignação nacional e descarregou votos na candidata que tinha o discurso mais inflamado contra o governo federal. Hoje em dia, a vinculação entre as eleições municipais e as questões federais não é tão direta.
Desde que os brasileiros recuperaram o direito de escolher o presidente da República, em 1989, apenas um dos candidatos tinha experiência como gestor municipal: Fernando Collor de Mello foi prefeito de Maceió entre 1979 e 1982, nomeado pelo governo militar. Mas, certamente, não foi o desempenho como prefeito que lhe abriu as portas do Palácio do Planalto. Dos outros, Fernando Henrique Cardoso até tentou. Mas perdeu para Jânio. Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff nunca quiseram ser prefeito.
A partir de hoje, começam as análises do impacto das eleições municipais na escolha do próximo presidente, daqui a dois anos. Alguma influência haverá, certamente. Mas ela será muito menor do que o resultado das urnas de 2012 quer mostrar.
Fonte: Brasil Econômico, 08/10/2012
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