Não é de hoje que me impressiona o grau de endividamento a envolver número significativo de pessoas, bem como seu custo, que não pode ser modesto, mas não possuía dados seguros a respeito. Pois, vem de ser publicado estudo que, por sua origem e objetividade, pode ser considerado idôneo, tanto que divulgado por importante jornal do país, circunstância que se assemelha a uma espécie de aval.
Dir-se-iam inacreditáveis os dados arrolados. A dívida total das famílias brasileiras abrange coisa de 40% do total dos rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social; por sua vez, em dezembro de 2009 era de R$ 485 bilhões a dívida em questão, passados 14 meses, em abril de 2011, ela teria saltado para R$ 653 bilhões, sem falar em juros, que não cessam. Esses dados falam por si e o que deles se pode dizer, no mínimo, é que são impressionantes, para não dizer aterradores. O crescimento da dívida que pesa sobre enorme porção da sociedade nacional tem várias causas, mais ou menos identificáveis, v.g., o estímulo oficial do consumo de maneira a imiscuir-se nos hábitos das áreas beneficiadas, fato que, obviamente, é do agrado da indústria e do comércio, fenômeno que se agiganta, tanto mais que as condições de financiamento eram sedutoras, à semelhança das drogas, sem falar na arrecadação tributária, a maior de todos os tempos, segundo propalado. No entanto, a bolsa de facilidades tinha dois gumes, e dia a mais, dia a menos, seria inevitável que a receita dos endividados se tornaria insuficiente para resgatar os compromissos e neste momento já se fala no inadimplemento crescente, de modo a, por si só, preocupar qualquer observador. Aliás, agora se noticia haverem os bancos elevado a taxa de inadimplência. Afinal, banqueiro que não se prepara para o pior não é banqueiro. Há quem preveja que a mora em expansão poderá atingir o sistema bancário, o que, de uma hora para outra, poderá aditar à angústia dos devedores nova componente; não especulo a respeito de sua periculosidade. Limito-me a notar que não foram necessárias muitas luas para que o calote subisse para 5%, marcando o mais elevado dos últimos 12 meses.
Uma autoridade, em declaração a que me reporto, teria afiançado que o crescimento do calote não chegava a ser surpresa, pois não passava de mera consequência da “acomodação da taxa de inadimplência”. Por outro lado, a taxa de juros cresceu significativamente e agora se volta a falar em nova majoração. A título de curiosidade ocorre-me lembrar que para o cheque especial aumentou para 185,4% ao ano, o maior desde abril de 1999.
Não me parece despiciendo falar que o fator mais responsável pelo aumento da dívida é o juro que a compõe. A título de informação lembro que, até abril último, os juros representavam 54% do total da dívida e então sua quota passou para 60% do total. De mais a mais, as linhas de crédito que mais crescem, exatamente pela facilidade do seu uso, o cheque especial e o cartão de crédito, são as mais caras.
Poderia garimpar outros dados ilustrativos, mas me parece que os apontados são bastantes a revelar o que está ocorrendo entre nós, atingindo a parcela menos abonada da sociedade.
Fonte: Zero Hora, 04/07/2011
Enquanto isso a poupança com muito esforço “premia” o poupador com meros 8% a.a. Não paga nem a inflação oficial, aquela…mais falsa que nota de 3 reais. A verdadeira é bem pra lá de dois dígitos! E continua o governo como o maior concentrador de renda no Brasil. Não tem jeito. Eu já desisti.
À aguda observação de dr. Brossard ,caberia lembrar tambem a nossa cultura avessa à verdadeira poupança e a tendência ao perdularismo inconsequente.
Falta-nos, o que um amigo meu classifica de “inverno saneador”. As nossas generosas condições climáticas nos dispensam das preocupações da cruel sobrevivência, que os invernos rigorosos impõem.
É a sina de vivermos num paraiso terrestre.