Maílson da Nóbrega nasceu em 1942, no interior da Paraíba, em Cruz do Espírito Santo. Seu pai era alfaiate e não é difícil perceber como devia ser duro ganhar a vida costurando roupas numa pobre cidade de 2 mil habitantes, sobretudo tendo dez filhos para criar.
Pois foi de lá mesmo que Maílson saiu para se tornar ministro da Fazenda, em 1987. Como Começou com educação. Por sorte, seus pais davam importância ao estudo. Por sorte, ainda, havia na cidade uma boa e dedicada professora de primário. Assim, Maílson ia para a escola de manhã e passava as tardes fazendo lição e tomando aulas particulares.
Foi levando nessa toada estudo! até passar no concurso para o Banco do Brasil, em 1963. Na época, a prova incluía, além de português, matemática, contabilidade e datilografia, testes de inglês e francês. Daí em diante, foi mais natural. A carreira no Banco levou-o à direção, no Rio, e aos ministérios da área econômica. Já em Brasília, arranjou um tempinho para fazer faculdade de economia.
A história relatada na sua autobiografia, “Além do feijão com arroz”, editora Civilização Brasileira é uma demonstração de como a educação tem duas funções: uma, a de igualar as oportunidades; outra, de permitir o avanço pessoal.
No regime capitalista, a desigualdade é inevitável, mas ao final das histórias. Como funciona pelo mérito, pela capacidade de empreender, pelo trabalho duro e eficiente, pelas ideias inovadoras, pelo talento, o capitalismo premia os mais bem-sucedidos. Alguns vão ganhar mais, outros ficarão pelo caminho.
O Estado pode reparar algumas situações dramáticas atendendo, por exemplo, os muito pobres ou ainda oferecer condições básicas de vida, mas não tem como igualar a renda, a riqueza e o bem-estar das pessoas.
O melhor que o Estado pode fazer está na partida, no início da vida das pessoas, na preparação para a atividade profissional. Pode igualar as oportunidades ou chegar muito perto disso. Ou, inversamente, quando falha, pode ser a causa de mais desigualdade.
No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), testes aplicados a estudantes de 15 anos de 65 países, os brasileiros conseguiram notas melhores na prova de 2009, cujos resultados foram divulgados nesta semana. Mas, olhando mais de perto, levando-se em conta a renda familiar dos alunos, a realidade é triste: melhoraram os nossos alunos mais ricos; os mais pobres ficaram no mesmo lugar.
Ou seja, os mais pobres já chegam à escola em desvantagem. E o sistema educacional amplia essa desigualdade ao longo dos anos. Considerando que estamos em plena era do conhecimento, o desastre não poderia ser maior.
A escola pública fundamental e média, no conjunto da obra, não cumpre suas funções, senão muito parcialmente. Há unidades boas aqui e ali, e são essas que permitem as sortes como a de Maílson.
A falha é de políticas públicas, para usar expressão tão empregada por aqui e tão mal utilizada. Oferecer igualdade na partida é uma função essencial do Estado ? todos dizem isso. Mas, quando se olha para os orçamentos públicos, como nota Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, apenas 3% do gasto total vão para educação e cultura. É claramente insuficiente. Demonstra que a prioridade para a educação é apenas retórica.
Como o governo arrecada um monte de impostos, a conclusão é óbvia: não falta dinheiro, falta gastar de acordo com as reais prioridades.
De uns tempos para cá, ganhou nova força a tese de que o Estado tem mesmo que gastar para acelerar a economia e aplicar programas sociais. Ora, ninguém é contra isso. A questão é: quanto gastar Onde E isso considerando-se que o dinheiro não é infinito.
O que faz mais sentido, gastar com escola ou subsidiar frigoríficos? É, sim, o mesmo dinheiro público.
O Brasil passa por um bom momento. O sentimento é positivo nos diversos setores da economia privada. Mas quais são as principais queixas que a gente ouve pelo país todo? Onde estão os obstáculos a uma atividade ainda mais forte?
Nas coisas do governo. Uma empresa atacadista do Nordeste, que distribui remédios pelas cidades do interior, reclama das estradas, da falta de segurança, dos aeroportos e do horror que é lidar com o ICMS de cada estado.
O agronegócio exportador reclama das estradas, dos portos e dos impostos embutidos na cadeia de produção.
Pessoal dos bancos mostra como impostos mal aplicados ? como o IOF sobre apólices de seguro, pago adiantadamente encarecem e burocratizam, com custos, as operações financeiras.
Luíza Helena Trajano, do Magazine Luíza, mostra como mesmo ideias boas, como a substituição tributária, que combate a informalidade, acabam se transformando em infernos burocráticos.
Tudo considerado, proponho de novo a tese liberal: que o Estado cumpra a função de igualar as oportunidades boa escola para todos, saúde básica, segurança para todos que gaste muito dinheiro nisso, que pague bem os profissionais desses serviços, e deixe o resto, inclusive portos, aeroportos e estradas, para a iniciativa privada. E facilite a vida de quem quer fazer negócios honestamente.
Fonte: O Globo, 09/12/2010
Porque o “empreendedor” tem direito em se sair melhor? Esta é uma questão de perfil da pessoa. Eu não tenho o perfil empreendedor, por isso sou um humano com menos valor? por isso mereço menos que o Eike Batista? Não acho que o estado tem que nos engessar e tirar liberdades e privacidade, e que a igualdade total é impossível. Mas não posso aceitar que pessoas sejam consideradas melhores e ‘mereçam’ ter mais que outras por seu perfil ou características psicológicas. O “endeusamento” do empreendedor que o mundo empresarial tenta criar é um desserviço à sociedade. Para termos uma sociedade saudevel e com menor desigualdade precisamos que todos os perfis de pessoas sejam exaltados, pois todos tem grande importância e são interdependentes. Uma sociedade mais equilibrada é uma sociedade melhor.
Incrivel, né, a confusão que se faz! O artigo vem, de ponta a ponta pontuado, entre outras coisas, sobre MERITOCRACIA e algumas variantes. Subitamente um leitor introduz ISONOMIA.