Ao longo do ano escrevi mais de um artigo mostrando que, apesar de o Brasil crescer pouco em 2013, para a atividade seguradora o ano seria bom porque as condições socioeconômicas até o momento já haviam garantido o faturamento necessário para manter o ritmo de anos anteriores. Minha preocupação era com o desempenho das seguradoras, uma vez que a queda dos juros, a alta da inflação e a sinistralidade poderiam comprometer o resultado de algumas empresas.
Grosso modo, o cenário não mudou. Seguro ainda deve ter um índice de crescimento mais alto que o PIB. As apólices de seguros, os planos de saúde privados e os investimentos nos planos de previdência privada aberta e na capitalização já contratados devem gerar o faturamento necessário para garantir o desempenho do setor.
Mas a situação começa a se complicar. O aumento da inflação está levando o brasileiro a poupar mais e consumir menos. Até a indústria automobilística começa a dar sinais de arrefecimento, com a venda de carros zero perdendo fôlego no último mês.
Menos carros vendidos significa menos seguros de veículos vendidos. Ou seja, o crescimento da carteira deve andar em ritmo mais fraco, reduzindo o faturamento fortemente pressionado pela sinistralidade elevada. Como a remuneração real do capital investido está baixa, o resultado deste seguro não tem sido bom para o mercado em geral. Como se não bastasse, o roubo de carros explodiu.
Na área dos planos de saúde privados, escrevi recentemente dois artigos mostrando que a situação pode começar a ficar delicada para os clientes potenciais de planos individuais, cada vez mais difíceis de serem contratados. Mas não são só estes planos que estão sob pressão. Os chamados planos coletivos por adesão também começam a ser questionados, principalmente por conta dos reajustes aplicados pelas operadoras.
Com o argumento de que a sinistralidade é muito elevada, algumas operadoras estão apresentando reajustes que os consumidores consideram inaceitáveis. O resultado é que estão questionando a falta de transparência e a forma como os reajustes são feitos, os índices de sinistralidade utilizados, os carregamentos, os custos, etc.
Para complicar o relacionamento entre consumidores e operadoras, o atendimento oferecido por parte da rede credenciada, em função da falta de investimentos de vários prestadores de serviços, tem apresentado demora considerada injustificável pelos usuários. Não é crível para eles que o pronto socorro de um hospital de primeira linha demore várias horas para atender. Da mesma forma que não aceitam um laboratório de renome demorar para marcar determinados exames. E, no entanto, isso tem ocorrido, sem qualquer culpa dos planos de saúde.
No campo dos planos de previdência privada aberta o faturamento pode levar a erro sobre os prognósticos para o futuro. É verdade, as aplicações nos PGBL’s e VGBL’s continuam fortes, mas será que o investidor já atentou para a queda do rendimento?
Não que o desempenho dos planos nacionais não se compare ao que acontece no mundo, em produtos com desenho semelhante, pensados como investimentos de longo prazo. Mas o brasileiro sempre pensou em termos de rentabilidade alta e isso não tem mais.
Finalmente, no campo dos grandes investimentos previstos para serem feitos ao longo dos próximos anos, vários projetos estão andando em ritmo mais lento, outros sendo adiados e alguns, inclusive, cancelados. Quer dizer, os seguros que deveriam garantir a execução destas obras, e que fizeram do Brasil um dos melhores lugares para seguradoras e resseguradoras especializadas em grandes riscos, ou estão sendo feitos em ritmo mais lento, ou sequer serão contratados.
Entre secos e molhados, ao longo de 2013 o setor deve apresentar crescimento bem mais consistente que a média nacional. Mas seguro é atividade de longo prazo. Então, a questão que começa a preocupar é: como fazer para continuar girando acelerado em 2014? Essa resposta, hoje, ninguém tem.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 05/08/2013
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