O pico das bolsas marcou o fim de uma era de especulação excessiva e a mudança na psicologia das massas de investidores. “Os mercados de ações registram a mentalidade de uma época. Os preços nas bolsas são o melhor indicador do grau de otimismo, da disposição, da psicologia das multidões. Os investidores exibem o comportamento das manadas. Todos os dias, milhões de investidores processam as mesmas informações, compartilham as mesmas opiniões e expressam as mesmas emoções em um processo de contágio mental. As pessoas seguem juntas o estouro da boiada, como se fosse a única alternativa. Afinal, pensam, a boiada deve saber aonde está indo. E, quando estoura o estampido do pânico, ante o colapso dos preços, mesmo os mais racionais sabem que, se não reagirem, podem ser levados à falência pelo sistema límbico dos demais. Essa reação em cadeia prossegue forçando uma capitulação em massa até mesmo dos mais calmos e otimistas”, diagnostica Robert Prechter, em “Cultura popular e mercado de ações” (1985).
O comportamento de manada é uma primitiva resposta evolucionária ao problema da tomada de decisão. Prossegue Prechter: “Há situações em que o estouro da boiada levou à sobrevivência. Mas, nos mercados financeiros, o comportamento de manada leva à ruína, explicando por que a maioria das pessoas perde dinheiro especulando nas bolsas. Se os mercados estão disparando, o sistema límbico deflagra emoções de esperança e euforia, estimulando as compras em manada. E, quando as bolsas entram em colapso, o sentimento de pânico e o instinto de sobrevivência disparam o estampido das vendas em manada. Por fora, os investidores parecem racionais. Por dentro, o inconsciente tomou o controle.”
Quanto maiores o grau de incerteza e o número de participantes inexperientes, maior o estouro da boiada e maiores as oscilações nos preços das ações, para cima e para baixo. O comportamento das bolsas torna-se caótico.
“Cada época tem sua peculiar insensatez, alguma fantasia em que mergulha em busca de ganhos materiais, excitação ou pela mera força da imitação. Nações inteiras são tomadas por uma idéia fixa, e os homens enlouquecem na perseguição dessa idéia. Milhões de indivíduos são tomados simultaneamente por um delírio, e correm em sua busca. O dinheiro tem sido uma causa freqüente de desilusão das multidões. Homens sóbrios tornam-se apostadores desesperados, arriscando sua existência em pedaços de papel. Os homens enlouquecem subitamente em manada e recuperam seu bom senso apenas lentamente e um a um”, já advertia Charles Mackay no prefácio da segunda edição de “Extraordinários delírios populares e a loucura das multidões” (1852).
É como diz Nietzsche, outro especialista em animais de rebanho, no aforismo 156 de “Além do bem e do mal” (1886): “A loucura é algo raro em indivíduos – mas em multidões, partidos, povos e épocas é a regra”.
O Globo 01/12/08
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