Discordo da versão predominante internacionalmente de que a atual disputa eleitoral no Brasil consiste em direita versus esquerda. Se um dos dois candidatos melhor posicionados neste momento pertencesse a uma direita conservadora respeitável e democrática, enquanto seu opositor fosse membro de uma esquerda consciente, moderna e íntegra, então sim se trataria de uma autêntica disputa ideológica. E grande parte dos brasileiros estaria bastante mais tranquila do que se encontra neste momento.
Porém, a verdade é que de um lado existe um direitoide primário, insensato, sem preparo para comandar o país e impregnado de pontos de vista caducos . O candidato do lado oposto representa um partido pretensamente classificado de esquerda mas desprovido de qualquer conteúdo ideológico, saqueador do Estado brasileiro e portador de discurso e comportamento meramente populistas.
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Esse panorama conduz ao pessimismo quanto ao futuro do país, pois ambas as opções representam retrocesso nas condições de vida da população. A eventual vitória de Bolsonaro resultaria em uma ameaça aos valores do pensamento conservador liberal e responsável, enquanto que a vitória de Haddad significaria a consagração da descompostura política e da impunidade generalizada.
Lamento transmitir esse enfoque desanimador, mas cansei de aturar análises baseadas em um falso dilema: o de que no segundo turno os eleitores brasileiros se encontrarão perante uma batalha entre autênticos pensamentos de direita e de esquerda. Nosso verdadeiro dilema provêm do fato de que, no segundo turno, as alternativas disponíveis provavelmente se limitarão a caricaturas toscas dessas duas correntes ideológicas e desprovidas de substância confiável.
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