O técnico da seleção brasileira se irritou mais uma vez. Não quer falar sobre Ronaldinho Gaúcho. Dunga foi claro: a imprensa devia perguntar-lhe sobre os jogadores que estão na seleção – convocados por ele.
Quando a humanidade saltou da natureza para a cultura, teve gente que ficou no meio do caminho. Para esses, coisas como o contraditório e a circulação não adestrada das idéias são dolorosas. É a nostalgia do reino animal.
Em Cuba, onde Lula aportou mais uma vez de olhos vendados, também é assim. O governo dos justos sabe o que é certo, e por via das dúvidas cala o diferente, para proteger a sociedade do possível erro. Uma espécie de virtude feudal.
Talvez Lula cruzasse com o cortejo do prisioneiro político Orlando Zapata, se morto de oposição tivesse direito a funeral público. Zapata estava em greve de fome porque queria ser prisioneiro de consciência.
Doce ilusão. Para os donos da verdade, a consciência é monopólio estatal.
Na volta ao Brasil, Lula deveria tirar Dunga da seleção. No Plano Dilma, o atual técnico seria um excelente ministro das Comunicações. A pessoa certa para implantar o AI-5 petista (apelidado carinhosamente de Programa de Direitos Humanos), e todos os seus conselhos governamentais que irão decidir o que a sociedade pode dizer – e protegê-la dos Zapatas.
Nesse mundo ideal e virtuoso, ninguém iria falar de Ronaldinho Gaúcho ou de José Dirceu.
Por que discutir o lobby do ex-ministro e deputado cassado nas transações subterrâneas da nova Telebrás? A imprensa burguesa – assim como a esportiva – é muito impaciente. Dirceu está trabalhando (do jeito dele) pela revolução socialista. E ficam esses apressados atrapalhando o processo…
Dunga, assim como Fidel e Raúl, sabe o que é o certo. Se ele não chamou Ronaldinho Gaúcho para a seleção, esses repórteres inconvenientes que perguntam pelo jogador só podem estar querendo sabotar.
O técnico zangado, isto é, Dunga, teria brilhado no último congresso do PT. Celebraria com os companheiros o desejo, cada vez menos secreto, de mandar para as masmorras cubanas essa gente que fala o que eles não querem ouvir.
(Publicado em “Época”)
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