Faltando apenas quatro meses para o fim do ano, começamos a nos questionar se estamos seguindo os planos que traçamos no início. Listamos as nossas realizações e o que ainda não fizemos. E, então, surge aquela reflexão: o que tenho feito de minha vida?
Essa jornada de autoquestionamento é importante e não deveríamos esperar o final do ano para fazê-la.
Uma boa ferramenta para nos ajudar nessa reflexão é a obra 12 regras para a vida – um antídoto para o caos, de Jordan B. Peterson, renomado escritor, psicólogo clínico canadense e uma autoridade quando se trata de responsabilidade pessoal e o sentido da vida. O livro traz doze princípios práticos sobre como viver uma vida com significado, ter uma trajetória de liderança e liberdade, focando no indivíduo e em sua responsabilidade frente à sua realidade. As 12 regras para a vida são, de fato, um antídoto para o caos atual: verdades necessárias na sociedade moderna com ênfase no protagonismo do indivíduo e no valor da constância de suas atitudes.
Se cada um é o protagonista da sua vida e a conduz de acordo com seus valores e ações, como ainda assim é possível ter sucesso nas realizações, posto que existem acontecimentos externos que estão fora de nossa alçada e planejamento? Jordan Peterson responde: o diferencial está na postura adotada diante de situações adversas. Temos que ser como as lagostas, diria ele. Habitando a Terra há mais de 350 milhões de anos, muito antes dos dinossauros, as lagostas adotam posturas bem peculiares em uma disputa: é a postura confiante da lagosta vencedora que faz com que ela se mantenha num ciclo vitorioso, enquanto a lagosta perdedora com baixos níveis de neurotransmissores e postura curvada tende a se manter em um ciclo negativo. O mais interessante é que esse mecanismo também está presente no sistema nervoso do ser humano. Baixos níveis de serotonina em uma pessoa resultam em uma postura sem ânimo, sem vontade, e implicam menos felicidade, mais ansiedade e doenças relacionadas à depressão, o que faz com que essas costumem pensar em si mesmas como inúteis.
Sendo assim, a postura adotada pelo indivíduo está diretamente relacionada ao seu sucesso, sendo a sua postura uma manifestação de ordem interna. Está aí a importância de hábitos saudáveis, da rotina, como acordar no mesmo horário e fazer exercícios físicos. É a postura que leva a pessoa a desenvolver a força interior. Quando, externamente, a postura é positiva, a pessoa busca naturalmente esse aprimoramento. Sem uma postura positiva, corajosa e vencedora, não somos agentes de mudança.
Transformar o caos da vida em uma ordem habitável, além de lutar contra os desafios em vez de fugir, é de total responsabilidade do indivíduo. Lidar com o que não dominamos, com o que não sabemos e entendemos, é lidar com o caos, seja o do mundo ou o da vida cotidiana, e a consequência de tentar fugir, além de inevitável, pode sim ser prejudicial. Afinal, o caos deve servir como um impulso ao desenvolvimento e crescimento. Num paralelo com o conceito abordado no livro Antifrágil de Nassim Taleb, nós temos a capacidade de evoluir com os impactos e diante de situações adversas. A real consequência, no âmbito social, é uma sociedade infantilizada que não quer assumir responsabilidades e comprometimentos. Indivíduos desprovidos de sentido e que, no fundo, não sabem a sua utilidade e, portanto, vivem apenas de prazeres imediatos, dominados pelo hedonismo, indolência e ressentimento.
Por isso, vale refletir se estamos cuidando de nós mesmo como cuidaríamos de alguém sob a nossa responsabilidade. Inclusive, nesse sentido, Jordan Peterson menciona um dado intrigante no livro: as pessoas tendem a ser mais cuidadosas na compra e administração de medicamentos para seus animais de estimação do que para si mesmas.
Por fim, convido-lhe (e Jordan Peterson também) a avaliar como você tem lidado com os riscos. Conter o risco é hesitar e, consequentemente, conter o seu real potencial. A consciência e disposição para enfrentar riscos, em busca da excelência, engrandece o indivíduo e expande suas possibilidades de vida.
De fato, é no nível individual que a mudança acontece. Quando desenvolvemos as capacidades e potencial do indivíduo, o impacto positivo é transmitido para toda a cultura. Se uma pessoa vai mal, isso traz consequências catastróficas para os outros. Indivíduos que têm consciência da sua responsabilidade moral individual são o ponto central de uma sociedade livre e próspera, já que não existe coletivo que alcance a individualidade de cada ser.
Vale a pena não apenas revisar a sua lista de desejos para o ano, mas também refletir: você tem contado apenas com a sorte e está vivendo no piloto automático, ou está sendo um líder protagonista e real agente de mudança?
* Por Mariana Zequeto, IFL-SP