Os números refletem o descompasso e consolidam um óbvio consenso: um Estado cuja participação na economia brasileira cai de 10%, na década de 70, para a faixa de 8%, nas décadas de 80/90, e hoje se encontra na faixa de 6,5% necessita de um amplo tratamento de choque em sua política de desenvolvimento. Caso a economia gaúcha não volte a crescer na média ou acima da média brasileira, em 2030 nossa contribuição poderá cair a menos de 5% – algo vexatório, e com graves consequências sociais e culturais.
A economia do Rio Grande do Sul demanda um esforço de adaptação à realidade brasileira e mundial sem paralelo hoje em outra região do país. Nossa matriz econômica tradicional perdeu mais do que ganhou nos 20 anos de Mercosul. O regime cambial nacional dificulta a competitividade de uma economia tradicionalmente exportadora e industrial. Mas a estratégia baseada apenas em medidas paliativas, ou reativas, de manutenção de competitividade setorial, não tem se mostrado eficaz. Diversos setores importantes para a economia gaúcha apresentam incertezas e dificuldades, como o setor calçadista, de máquinas agrícolas, arrozeiro, mobiliário, fumageiro, vinícola e de carne.
A nossa matriz produtiva é hoje insuficiente para as aspirações de um Estado que atingiu um nível de demanda por bem-estar de território de renda média. É fundamental buscar a configuração de novos setores e indústrias-âncora para dar sustentação à sua economia tradicional. Nossos esforços nesse sentido foram incompletos nas últimas décadas. É preciso atrair e construir uma nova economia que seja complementar à matriz econômica atual, com empresas-âncora capazes de gerar choques de produtividade e estímulo à complementação com o desenvolvimento local. Priorizar investimentos pontuais em infraestrutura, que representem ganho de competitividade para regiões e a capacidade de planejamento e formulação estratégica dessas regiões.
Ter um projeto de desenvolvimento claro, negociado, competitivo e bem promovido no país e Exterior não significa necessariamente jogar-se de forma reativa em uma guerra fiscal com outras regiões do país que estão iniciando o seu processo de industrialização. Significa a configuração de um ambiente “pro business” consistente, com esforço de integração, adaptação e reconversão. Devemos começar a pensar seriamente em iniciativas como um Fundo para Reconversão Econômica e consolidar novos ativos como o voo direto para a Europa.
Temos capital social e plena condição de estar em uma situação diferente nas próximas décadas, em meio à conjuntura mundial favorável ao Brasil que precisa ser aproveitada. Mas sem convergência de governos, lideranças empresariais e sociedade, senso de urgência e escala nas ações, não conseguiremos quebrar e reverter o ciclo de isolamento e gestão de crise.
Fonte: Zero Hora, 17/06/2011
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