SÃO PAULO – Para o sociólogo Demétrio Magnoli, um eventual governo Dilma Rousseff poderá trazer riscos à liberdade de imprensa porque fortalecerá correntes “stalinistas” do PT.
O GLOBO:
De que forma a candidatura Dilma pode representar um risco à liberdade de expressão? DEMÉTRIO MAGNOLI:
O PT vive um processo de regressão política, rumo a uma restauração de ideias stalinistas a respeito da democracia, de que a imprensa é uma coisa burguesa que deve ser superada. Minha preocupação é que um hipotético governo Dilma seja muito mais dependente do partido do que o governo Lula, que tem uma ampla autonomia diante do PT. Dilma vai depender muito mais do que Lula do partido.
Mas ela pensa assim?
MAGNOLI:
Não está claro o que pensa Dilma. Ela é um personagem derivado da força de Lula. Ao mesmo tempo, é uma novata no PT, chegou pouco antes da eleição de Lula. Ela não disse com clareza o que acha sobre esses assuntos. Temo que diga as coisas que o PT quer ouvir.
O senhor criticou o silêncio do Brasil a respeito de violações da liberdade de expressão e de imprensa, especificamente na Venezuela e em Cuba. Quem cala consente?
MAGNOLI:
Além do silêncio, há manifestações mais graves de apoio. Quando o presidente Lula diz que a Venezuela é uma democracia quando o governo venezuelano toma medidas antidemocráticas, ou quando responsabiliza o preso político que morreu em greve de fome pela sua própria morte, e não a ditadura que o encarcerou, o que se está fazendo é um elogio da tirania. O governo brasileiro está se acostumando perigosamente a elogiar a tirania.
A imprensa incomoda o PT ou incomoda o governo?
MAGNOLI:
Todo governo se incomoda com a imprensa. É normal. É sinal de que existe uma imprensa independente. Uma coisa diferente de reclamar é criar uma teoria que diz que a imprensa é um obstáculo para o progresso do povo. Essa teoria é do PT, não do governo Lula, mas ela se infiltra em atos governamentais, como o Plano Nacional de Direitos Humanos 3.
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