“Negociar”, na linguagem falada no Congresso desde que se perdeu a vergonha de admitir a política do toma-lá-dá-cá, é sinônimo de “ceder”. O Código Florestal ainda vai dar muito que falar e se não houver uma ação política inteligente e eficaz, o governo sofrerá outra derrota acachapante no Congresso.
No último final de semana, o ministro da Agricultura Mendes Ribeiro levou um pito do Planalto por ter dito que a presidente Dilma Rousseff estaria disposta a fazer aquilo que, mais cedo ou mais tarde, será obrigada a fazer.
Ou seja, negociar alterações na Medida Provisória baixada no final do mês passado sobre o tema. Como se sabe, os deputados da chamada “Bancada Ruralista” estão em campanha aberta contra a Medida e até entraram com uma ação junto ao STF por entender que ela só poderia ser baixada depois que os vetos presidenciais à lei aprovada no último dia 25 de abril fossem analisados pelo Congresso.
Os deputados ruralistas querem mostrar força – e foi justamente por abrir a boca em cima de um fato como esse que Mendes Ribeiro pecou.
Deputado pelo PMDB do Rio Grande do Sul, Mendes Ribeiro exercia seu quinto mandado quando foi chamado para a Agricultura.
Ou seja, ele conhece a Câmara dos Deputados e é justamente por conhecer que foi inábil ao se referir à disposição de Dilma para a negociação. “Negociar”, na linguagem corrente no Congresso desde que se perdeu a vergonha de admitir a política do toma-lá-dá-cá, é sinônimo de “ceder”.
E foi justamente por não estar disposto a aumentar o apetite da turma antes de definir sua estratégia que o governo ralhou com o ministro. Mas o Planalto terá que negociar com os ruralistas. Do contrário, será obrigado a engolir um Código Florestal mais parecido com o projeto vetado por Dilma do que com a atual Medida Provisória.
O problema é que o governo, por mais que reconheça a necessidade de negociar não tem, quando o assunto é a agricultura, a mesma força política que costuma exibir diante de outros temas.
Desde os governos de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo vem se valendo, em sua negociação com o Congresso, de uma espécie de balança. Os ministérios são distribuídos aos partidos como forma de garantir uma fidelidade que funciona muito bem para assuntos que não digam respeito ao interesse direto dos parlamentares.
Assim, um cargo no primeiro escalão dado ao PMDB pode até garantir obediência diante de questões relacionadas com o Orçamento da União ou com a Previdência. Mas, quando o assunto diz respeito ao campo, a negociação se complica. Sempre.
Em primeiro lugar, por se tratar de um assunto que diz respeito a todas as regiões do país, é impossível fazer barganhas regionais – como acontece nas vezes em que a bancada nordestina, por exemplo, é jogada contra o Sudeste. Em segundo lugar porque os ruralistas estão espalhados por todos os partidos.
Ou quase. E, em terceiro, porque – como já foi dito neste espaço – a quantidade de deputados que se elegem com votos de gente que vive em municípios rurais é muito maior do que a de eleitos com votos urbanos.
O governo terá que negociar. Mas terá que ter cuidado para não ceder mais do que o razoável.
Fonte: Brasil Econômico, 11/06/2012
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