Há uma sinalização de que o governo começou a ficar mais preocupado com a inflação. Mas não redundam da preocupação medidas mais contundentes de aumento de juros, e sim a busca de informações sobre o porquê do aumento ainda de preços agrícolas.
Ou seja, o governo continua um pouco perdido em sua análise sobre o processo inflacionário e insiste na tese do choque de oferta como causa principal dos aumentos de preços. Para aqueles que acreditam que o governo possa mudar de atitude existe até uma data que detonaria esse processo: agosto de 2011.
Nesse mês, a inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA deverá passar de 7%, o que incitaria o governo a rever sua trajetória de política monetária. Entretanto, acho difícil acreditar nessa hipótese por algumas razões.
O governo está certo em sinalizar que o mês de agosto ou setembro será o teto da inflação este ano, com gradual arrefecimento a partir daí para números próximos de 6,5% no final do ano, dando a impressão de que a inflação estaria convergindo para a meta.
O problema é que essa desaceleração se dá pela saída de números mais pressionados do final do ano passado, nada mais. Continuarão valendo para 2012 as pressões de salário mínimo e o aumento de gastos públicos que realimentarão a inflação.
O argumento de que a atividade não será prejudicada poderá levar o BC a novamente abrir mão do argumento de que 2012 não dará para convergir para a meta, mas 2013 ela convergirá e assim podemos caminhar até o final de 2014.
Além disso, não necessariamente segue que da ideia de que a inflação se mantém elevada novos aumentos de juros ocorrerão. Pelo contrário, podem acelerar o processo de medidas macroprudenciais, distorcendo ainda mais o mercado de crédito e mantendo a ineficiência, já que são medidas que o mercado facilmente consegue burlar.
Também se usará o crescimento dos investimentos para justificar o aumento da oferta, mas investimentos esses cada vez mais concentrados em alguns setores comoditizados.
Por fim, mudar a estratégia para algo mais conservador envolve mudança de atitude de toda a equipe econômica, da presidente ao BC.
A coerência interna desse grupo é muito grande e refratária às análises de mercado. Num momento de crise pode se tornar mais refratária e apelar para mais medidas inadequadas. Em outras palavras, envolverá mudar a cabeça da presidente, de quem se sabe há muito tempo ter ojeriza a aumentar juros.
Vale lembrar seu discurso recente de que em seu governo a taxa de juros vai cair no longo prazo. No atual ritmo isso parece difícil de ser viável.
O problema disso tudo é que o modelo econômico do governo é equivocado ao resgatar velhas teses desenvolvimentistas do governo Geisel.
Estamos simplesmente gastando as reformas que foram feitas nos últimos anos. Se o governo conseguir perceber que sua trajetória atual está errada, poderá levar a um período mais longo de aumento de juros no futuro e maior desaceleração de atividade. O governo estaria disposto a pagar o preço de anos de crescimento baixo? A ver.
Fonte: Brasil Econômico, 18/04/2011
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