A economista Wasmália Bivar, após 25 anos no IBGE, chegou à presidência do instituto, primeira mulher no cargo em 75 anos do órgão. A missão, porém, mostrou-se espinhosa. O vazamento de informação pela internet, desde maio, mostrou a fragilidade no sistema do instituto. E a mudança no índice oficial de inflação, o IPCA, foi questionada, diante da queda nos pesos de educação e emprego doméstico.
A semana passada foi de críticas ao IBGE diante da mudança na estrutura do IPCA. As críticas vão desde a falta de transparência a problemas no peso de educação e doméstica, despesas que diminuíram no orçamento, apesar dos preços em alta.
Wasmália Bivar:Há três meses estamos avisando que a estrutura mudaria em janeiro. O mercado faz projeções em cima desses procedimentos. Quem estava mais atento no mercado já definiu suas projeções.
Com a inflação no centro dos debates, essa mudança não mereceria um tratamento especial de divulgação?
Wasmália: É reivindicação legítima do mercado, que está mais competitivo na geração de informações com base nos dados do IBGE. O mercado esqueceu de nos dizer que queria saber o dia e a hora exatos. Estabelecemos uma nova regra: vamos informar o dia e hora, para que todos tenham acesso ao mesmo tempo. Quando tivermos os pesos definitivos, faremos a coletiva, como das outras vezes que o índice mudou.
Mas o peso de educação e empregada doméstica surpreendeu, diante do aumento expressivo de preços desses serviços.
Wasmália: Houve aumento de renda nas faixas da base da pirâmide que ganharam mais peso no consumo. Essa classe passou a consumir vários produtos, inclusive, bens duráveis. Tradicionalmente nessa classe que ganhou mais renda, os filhos são mantidos em escola pública. No caso da empregada doméstica, os preços dos serviços estão subindo, mas a quantidade, não. Dados do próprio IBGE mostram que caiu o número de ocupadas nessa função. Caiu o número de famílias que usam o serviço. Passou de empregada fixa para diarista ou deixou de ter o serviço pelo preço maior.
Como é possível ter um vazamento de informações pela internet desde maio, sem que o IBGE tivesse identificado (números do PIB e inflação ficavam disponíveis um dia antes da divulgação para alguns usuários).
Wasmália: Foi uma falha grave a ponto de arranhar a imagem de competência técnica. Nós nos envergonhamos de uma falha dessa gravidade. Mas fomos os primeiros a admitir o erro. Criamos um comitê para auditar cada etapa do trabalho, para identificar possíveis fragilidades. Não demitimos o funcionário responsável pelo erro, por acharmos que houve uma falha institucional por não termos adotado mais procedimentos de controle.
Qual o orçamento do IBGE para segurança no sistema?
Wasmália: Não temos esse valor separado. Com tecnologia, gastamos R$ 20 milhões por ano de um orçamento de R$ 160 milhões. Mas quero deixar claro que o banco de dados individualizado não está ligado à internet. É isolado da rede.
O Banco Central baixou juros, um dia depois de a presidente Dilma Rousseff afirmar que os juros precisavam cair. O ex-presidente do IBGE Eduardo Nunes deixou o instituto, depois de mais de oito anos, sem uma comunicação oficial, na véspera da divulgação do PIB. Na Argentina, o instituto oficial de pesquisas é acusado de manipular informações. Já houve pressão sobre o IBGE?
Wasmália: Não há influência. Jamais estaria neste cargo se houvesse qualquer interferência. O IBGE não é manipulável. A garantia vem da equipe técnica, que não se submeteria a nenhum tipo de manipulação, independentemente de quem esteja sentado nesta cadeira. Não me cabe julgar o que acontece na Argentina, mas se veio a público, foi porque os técnicos se manifestaram.
Que outros projetos estão em andamento?
Wasmália: Temos o IPCA nacional que, numa previsão otimista, deve ser divulgado no fim de 2015. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que dará um quadro trimestral do mercado de trabalho nos estados e a POF contínua.
Fonte: O Globo
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