A origem dos ditos populares “Se existem duas orelhas e uma boca, ouvir é duas vezes mais importante”, ou ainda, “Falar é de prata, calar é de ouro”? Desconheço.
Quando se conhece uma pessoa de pouco falar, o grupo de convívio logo trata de polarizar: ou é um tímido, introvertido, ou é um sábio que muito observa e só abre a boca quando tem certeza – ou de agradar a maioria ou da qualidade do que está falando.
Para dirimir a dúvida, é preciso apenas o tempo. Não muito tempo. Logo fica claro se o calado cala por se sentir inseguro do que pensa ou de eventual erro exposto, ou realmente se percebe as ocorrências com tal tranquilidade e experiência que lhe é possível dar muito que pensar aos demais, com poucas intervenções.
Habitando um universo de aparências, o “status” de gênio, intelectual ou sábio é conferido às vezes por um silêncio pseudo-eloquente, mas é sempre uma alcunha desejada.
Foi assim que se instituiu nos meios acadêmicos e culturais, passando obviamente para a comunidade em todas as relações interpessoais, a famosa “cara de pensamento” – olhar distante (diferente do olhar perdido, pois esse imbeciliza), apoiado quase sempre por uma das mãos e seus dedos indicador e polegar em ângulo reto, sob o queixo. Ajuda ainda mais se estiver lendo ou escrevendo algo.
Como a paciência para ler é pouca, os que escrevem muito mas falam pouco obtêm dos desavisados o rótulo de culto ou sábio, mesmo que os escritos sejam péssimos ou não levem a conclusão ou indagação nenhuma.
Tal fenômeno tal como descrito até este ponto faz pensar, claro, na facilidade de acesso às informações, verossímeis ou não, no mundo digital. Também faz pensar sobre a propagação da preguiça para ler matéria impressa, ou, no mínimo, conferir a qualidade da fonte e do conteúdo antes de utilizá-los e indicá-los.
O que se pode afirmar, entretanto, com referência ao mundo político, difere do exposto.
Ao ingressar na vida pública como candidato eletivo, o indivíduo precisa, basicamente, se expressar oralmente. Dizer de forma pública ao que veio. Não basta escrever e colocar asseclas para discursar em seu lugar, até porque no cotidiano de representante eleito muito se resolve no embate verbal, seja como membro do Legislativo, seja como membro do Executivo diante do povo e do Controle Parlamentar.
Se é evidente que candidato a cargo eletivo precisa se manifestar expressamente quanto aos seus princípios morais e soluções técnicas, por que, então, alguns se protegem no silêncio?
A história, fiel arquivo dos inquéritos populares, mostra. Para ser breve e objetivo, basta lembrar as últimas campanhas do Sr. Paulo Salim Maluf. Sempre candidato e sempre indiciado em diversos escândalos de desvio de verbas públicas e enriquecimento ilícito, entre outros, baseou sua estratégia em publicidades voltadas a um passado bem remoto e populista, deixando de ir a debates e de dar entrevistas. As pesquisas, à época, mostraram que a intenção de voto aumentou durante a campanha em favor dele, calado. Entre falar e piorar o quadro atiçando a lembrança das pessoas sobre suas falcatruas, ou valer-se do marketing da imagem parada em silente sorriso, prevaleceu a segunda opção.
O Partido dos Trabalhados aprendeu a lição. Agora, a candidata Sra. Dilma Rousseff faz exatamente a mesma coisa. Procura camuflar no silêncio seu despreparo emocional, técnico, político, cultural, assim como sua beligerância de guerrilheira ladra de banco.
Se existe um silêncio mais nocivo do que os dois mencionados, é o silêncio do eleitor.
Salvo raras oportunidades, como as ocorrências de 1930, 1932 e 1963-64, a nação brasileira não tem vocação às armas e levantes, ainda quando tais reações possam ser entendidas como inconformismo final à quebra do Contrato Social de Rousseau.
Pois bem: é preciso notar que o poder do silêncio é um poder suposto por quem escolhe calar, diante da possibilidade de se prejudicar, falando.
Com o povo é diferente. As últimas quatro eleições foram marcadas não por quem foi eleito, mas por quem deixou de ser. Uma lição demonstrada com figuras como Maluf, Quércia, Brizola, e companhia.
Está na hora dos cidadãos eleitores se perguntarem em que silêncio tão profundo e constante se esconde a Sra. Dilma Rousseff.
E mesmo que não promovam movimentos e passeatas contra tal estratégia famigerada, que se mostrem conscientes para repudiar esta armação sussurrada pelas alcovas. Que seja uma revolta calada, nas urnas. Esse silêncio é justo.
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