O resultado das eleições presidenciais não espantou os que analisaram o histórico das pesquisas realizadas nos pleitos pós-redemocratização. Tampouco surpreende que , assim como ocorrido em 2018, muitos dos votos tenham sido de rejeição – voto por exclusão. Assim, a partir deste momento, iniciada a campanha de segundo turno, questiona-se qual deve ser a estratégia de comunicação adotada pelos partidos: a comunicação propositiva ou a campanha de inimigo em comum.
Analisando-se as pesquisas realizadas nas eleições presidenciais no período 1992-2022, notamos que todas erraram para mais (entre 5% e 8%) em benefício dos candidatos ditos “heterodoxos” frente à realidade das urnas depois apresentada. Muitas teorias podem ser colocadas à mesa, mas a mais convincente é a de que as abstenções geram essa distorção entre intenção e realidade, já que esta costuma ser mais intensa nos grupos de menor poder aquisitivo, em que os partidos de esquerda costumam se sair melhor. A pesquisa de intenção de votos, que não pode prever a abstenção, ao ser interpretada pelos analistas políticos e pela mídia, deveria ser acompanhada de um disclaimer sobre isso, visto que, no fim das contas, pode influenciar o voto do eleitor. Neste momento, todavia, gastar energias atacando pesquisas e/ou suas interpretações não parece ser a melhor estratégia.
Neste segundo turno, atacar o sistema de pesquisa, a mídia e/ou a idoneidade do adversário poderá reforçar o voto em Bolsonaro apenas daqueles que já rejeitam Lula. Atacar a família e as declarações horripilantes de Bolsonaro poderá reforçar o voto em Lula apenas daqueles que já rejeitam Bolsonaro. Alterar o voto dos convictos “Lulista” e “ Bolsonarista”, portanto, não será a estratégia aqui, e alterar o voto dos não fervorosos exigirá mais dos candidatos, ou seja, falar de propostas e demonstração de resultados.
Enquanto Lula apela para palavras como “amor” e “fome”, Bolsonaro recorre às palavras “corrupção” e “emprego”. Nenhum dos dois consegue, todavia, ir muito além disso. Lula não explica como acabará com a fome e, verdade seja dita, o seu histórico em “erradicação da fome” é mentiroso. Bolsonaro não consegue explicar como acabará com a corrupção e, verdade seja dita, seu histórico levanta suspeitas – mas não mais do que o do ex-presidente Lula, efetivamente condenado.
No segundo turno, cabe a Bolsonaro demonstrar que o seu governo fez algo. Bolsonaro já tem o voto dos que rejeitam o “inimigo” Lula, e manter a mesma agenda não trará votos neste momento. A comunicação propositiva, que faltou nos últimos quatro anos, deverá ser utilizada agora, em linguagem simples e não em “economês” – esqueçamos as palavras “PIB”, “déficit”, “SELIC”, “deflação”. São muitos que votam com o estômago – e não os culpo, o prato de amanhã garante a sobrevivência – e são esses que precisam entender como o presidente pode ajudar a colocar comida na mesa, a curto (curtíssimo) e longo prazo.
Por outro lado, cabe a Lula demonstrar que o seu plano não irá falhar miseravelmente como falhou ao final dos aproximadamente 14 anos em que o seu partido esteve à frente do país. O primeiro passo seria divulgar o seu plano final de governo que, até o presente momento, não foi publicado. Concretamente, precisará apresentar como fará diferente.
O número de eleitores que aderiram às campanhas de “inimigo em comum”, de ambos candidatos, esgotou. Que as propostas apareçam.
*Por Gabriela Bratz Lamb Jereissati, IFL-SP