Um prêmio para quem – através do e-mail desta coluna – puder ajudar o colunista e seus demais leitores a fazer um prognóstico não especulativo sobre o que se passará, nos próximos meses, como desdobramento do ultimato franco-alemão ao governo grego.
Pela primeira vez, os líderes da Zona do Euro engrossaram para cima do maior devedor do grupo de países da Comunidade. Eles têm razão.
O princípio básico que regeu o nascimento da moeda única é o da disciplina fiscal imposta aos países pelo Tratado de Maastricht, que determina um déficit orçamentário de 3% do PIB, no máximo, e uma dívida pública limitada a 60% do PIB.
Os gregos argumentarão que estão errados, mas em boa companhia, já que praticamente ninguém se enquadra hoje nestes limites, inclusive Alemanha e França.
Tendo ou não um desculpa para sua balbúrdia fiscal, o fato é que a Grécia está diante de um dilema de muito difícil resolução, pois implica em decidir se vai estar quebrada hoje ou se arriscará ficar quebrada após enormes sacrifícios aceitos na tentativa de evitar o calote total. No primeiro caso, a Grécia sairia do euro.
O castigo principal por calotear 100% da dívida será uma queda abrupta do poder de compra da população – que prevemos, a sentimento, em perda de 30% do valor real dos salários locais e um aumento do desemprego para o nível de 25%.
Na segunda hipótese, a Grécia ganharia um recorte de 50% na sua dívida, o que é menos de metade do total devido. Em vez de cair 30%, o poder de compra nacional poderá ceder uns 15%, pois a moeda seguirá sendo o euro, e não um dracma desvalorizado.
O país continuará com o direito de “exportar” parte de sua mão-de-obra desempregada para outros locais no território da Comunidade. E receberá ajudas assistenciais do orçamento europeu. A segunda alternativa, apesar de dura – pois o PIB grego ainda recuará substancialmente – parece bem superior à primeira.
Há, contudo, uma volta a mais no parafuso dessa negociação. Embora reconhecendo, como diz seu ministro de Finanças e defensor da permanência no euro, que “a Grécia na Comunidade Europeia é uma conquista dos gregos”, a conta a pagar permanece indigesta: mesmo com abatimento de dívidas e ajuda externa, os gregos vão continuar devendo, segundo previsões oficiais, 120% do seu PIB, lá em 2020, de um valor de 160% nos dias de hoje.
Então, seria lícito perguntar, tanto sacrifício pra quê? Nesse momento, o pensamento se volta para o affaire argentino, em que o perdão foi de 75% da dívida, condição excepcional que viabilizou uma rápida recuperação dos portenhos, parcialmente desperdiçada pela maneira de agir tanguistica de nossos hermanos.
Ao propor um referendo da população, o primeiro-ministro grego estará, de fato, esticando a corda da negociação, que começou com um recorte de 20% na dívida, mas já está em 50%. É um jogo de perde-ganha com os líderes europeus, que estão presos como Perseu, no labirinto, à cata do minotauro.
Embora os europeus tenham o dinheiro, a população grega fica com a faca e o queijo, pelas trágicas sequelas de uma eventual expulsão da Grécia. O jogo pode virar um perde-perde. Contra isso é que o mercado está apostando.
Fonte: Brasil Econômico, 04/11/2011
No Comment! Be the first one.