Dias atrás, num seminário sobre o governo Dilma Rousseff promovido pela Federação do Comércio de São Paulo, o professor Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, famoso por seus profundos conhecimentos da economia e por sua capacidade de produzir frases de efeito, disse que o sistema financeiro, no Brasil, vive “pânico de ter que ganhar a vida honestamente”.
Pelo raciocínio de Delfim, chegará um momento em que o governo se verá na obrigação de reduzir os juros dos títulos da dívida pública.
No dia em que isso acontecer, os bancos serão obrigados a viver de emprestar dinheiro para empresas interessadas em financiar suas operações. Terão de ajudar as famílias a realizar o sonho da casa própria ou a trocar de carro – e dificilmente ganharão tanto dinheiro quanto ganham hoje.
Ontem o Bradesco divulgou seu resultado do primeiro semestre de 2011 e o número é portentoso: R$ 6,4 bilhões.
Com isso, logo terá início a temporada de questionamentos por parte de gente que, sem o conhecimento e sem o bom humor de Delfim, dirá que o valor é um absurdo – e que esses R$ 6,4 bilhões são a prova dos erros que se acumulam no Brasil.
Sim, há mesmo muito para ser corrigido pelo país afora. Mas esse resultado, na prática, é reflexo do que existe de positivo num país em crescimento.
O sistema financeiro brasileiro é um dos mais sólidos do mundo e os grandes bancos do país foram os únicos, entre as instituições das economias mais expressivas, que se mostraram capazes de atravessar incólumes a crise financeira de 2009.
Considerados seguros no mundo inteiro, eles souberam, no passado, trabalhar e fazer dinheiro num regime de inflação galopante.
Para os brasileiros que tinham acesso ao sistema financeiro, a conta bancária remunerada funcionou durante anos como uma proteção contra a desvalorização da moeda. Depois que a inflação foi controlada, o governo passou a praticar juros estratosféricos.
Já bateram em mais de 40% ao ano, o que faz parecer modestos os atuais 12,50% da taxa Selic. Mesmo assim, estão entre os mais altos do mundo num momento em que as taxas dos bancos centrais dos países desenvolvidos estão muito próximas de zero.
É isso que explica a enxurrada de dólares que tem inundado o mercado brasileiro e mantido o real hipervalorizado. Ora, se os bancos do mundo inteiro procuram o Brasil como porto seguro para seu dinheiro, por que as instituições do país seriam obrigadas a desprezar tal possibilidade?
E mais: a maior parte dos títulos públicos adquiridos por bancos como o Bradesco, o Itaú e o próprio Banco do Brasil pertence não a eles, mas a seus clientes.
O lucro do Bradesco é, sim, muito expressivo. O do Itaú, que será divulgado na semana que vem, também deverá chamar atenção. Assim como o do Banco do Brasil.
É esse, talvez, o lado mais saudável da economia brasileira: o do dinheiro das empresas e pessoas que, posto em instituições como essas, trabalha à luz do dia e se multiplica de acordo com as regras do mercado. Regras fiscalizadas pelo Banco Central e pela Receita Federal. O sistema financeiro é, talvez, o que existe de mais transparente no Brasil.
Fonte: Brasil Econômico, 28/07/2011
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