Já foi dito que o movimento dos mercados seria um retrato perfeito das sensações humanas: quando eufórico, vai aos céus; quando atormentado, vai ao inferno. A grande questão é que, ultimamente, temos ido do céu ao inferno ou do inferno ao céu em questão de instantes. Vamos dormir ao lado de uma bela mulher na doce tranquilidade do lar, mas acordamos no meio da noite, queimando com as labaredas de um dragão. Em outras palavras, a volatilidade do mercado está em rotação máxima, pois o investidor está absurdamente nervoso. O que isso significa? E mais, por que isso está acontecendo?
Em primeiro lugar, quem não tolera emoções fortes deve estar bem longe das aplicações de risco. Digo isso porque o nervosismo deve persistir por um bom espaço de tempo. Não existe um pingo de consenso no bloco europeu. Os camaradas seguem olhando apenas para o seu próprio umbigo. Não se deram conta que, se estão realmente em uma comunidade, o problema de um é um problema de todos. Enquanto havia dinheiro para a festa, tudo mundo era gostoso; agora, quando a grana começou a faltar, um bocado de gente começou a ficar gordinho, grisalho e fedorento. Moral da história: aquela baita gata que estava contigo, fazendo pensar que tu eras um bonitão, te largou, pois, sem grana, és um nada… Pois é, muitos países europeus estão gordinhos, grisalhos e fedorentos e as gatas dos países ricos não querem mais sair com eles. Será que o amor acabou ou será que ele, o amor, sequer chegou a existir?
Bem, não vou ficar aqui filosofando sobre as sinuosidades das relações amorosas; deixarei essa desafiadora questão para outra oportunidade. Quero falar sobre outro ponto que chama a atenção e me preocupa. Ora, até um cego está vendo que a crise europeia é séria e exige medidas urgentes, ou seja, não estamos diante de um cisne negro que pegou todo mundo de surpresa. Logo, em tese, dada a previsibilidade dos acontecimentos, teríamos melhores condições para encontrarmos uma prévia solução eficaz. O impressionante de tudo isso, no entanto, é que, apesar da gravidade da situação e de certa antevisão dos fatos, as autoridade políticas não estão conseguindo chegar a consensos de racionalidade. Em outras palavras, todo mundo sabe que é hora dos governos agirem coordenadamente, mas o ponto alto das negociações tem sido justamente o oposto: uma completa descoordenação de ideias e objetivos.
Isso está acontecendo porque a política mundial está tomada por idiotas que apenas pensam em seus próprios interesses. É claro que ainda existem ótimas cabeças na cena pública, embora cada vez mais raras. Como todo agrupamento de pessoas, a política reúne do melhor ao pior de uma sociedade; vai do brilhantismo às nulidades. Bem, nesse contexto, temos que admitir que um idiota pode ser realmente inteligente, mas seguirá sempre sendo um idiota completo. Logo, a tendência é que a idiotice prevaleça sobre a inteligência. E isso está acontecendo aqui e alhures porque muitos de nossos mais proeminentes intelectuais abandonaram a política para se dedicar à iniciativa privada. Até aí tudo bem, pois somos livres para fazermos o que nos interessa e realiza. O problema é que a iniciativa privada somente tem condições de prosperar e progredir dignamente dentro de um quadro de normalidade institucional. E quem garante a normalidade institucional de um país? A política. Eis, portanto, o brete em que nos metemos.
Assim sendo, se deixarmos a política apenas para os idiotas, teremos que torcer para que a maior parte desse time seja de idiotas inteligentes. A tendência natural, todavia, não é essa, pois quem não conhece a luz dificilmente sairá da escuridão. Logo, é imperativo que nossas inteligências proeminentes voltem a ter um papel atuante nos núcleos de poder. Aliás, é lição antiga que a vida pública é o ônus da cidadania. Como bons e conscientes cidadãos, precisamos ser politicamente ativos, procurando contribuir para o aprimoramento institucional das nações e seus correlatos efeitos benfazejos sobre o setor privado. Caso contrário, o mercado viverá em arritmia cardíaca, pois, para os idiotas, o tudo pode ser apenas um nada. Nesse ambiente de absoluta incerteza política, a volatilidade das bolsas vai ao extremo do insuportável. No fim, o coração do mercado poderá parar de bater para mergulharmos em crise profunda. Quem viver, verá. E talvez não vai gostar do que vai ver.
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