O pior a fazer diante da onda de assassinatos que tem assustado São Paulo nas últimas semanas é tratar o problema como uma “guerra” entre a Polícia Militar e a quadrilha de facínoras que explora o tráfico de drogas no estado.
Pensar que os dois lados se equivalem (como ocorre nas guerras) é reduzir uma instituição reconhecida e necessária (a Polícia) ao nível de marginais que são o que de pior pode existir numa sociedade. Ou, pelo raciocínio inverso, dar a bandidos o status de cidadãos com direito de fazer reivindicações e dar ultimatos.
A Polícia é a instituição que exerce em nome do Estado e de forma mais visível o monopólio do uso legítimo da força, conforme a definição clássica do sociólogo alemão Max Weber.
O que existe em São Paulo não é uma guerra, mas uma tentativa de marginais de se apoiar na violência pura e simples para infundir o medo na sociedade e, assim, tentar coibir as ações da Polícia.
Nos últimos anos, como se sabe, São Paulo endureceu o combate ao crime a ponto de fazer com que a média de homicídios na maior cidade do país (mesmo com as mortes registradas nas últimas semanas) continue inferior à média do Brasil em geral e do Rio de Janeiro em particular. Dito assim, tudo parece tranquilo e sob controle. Mas não está.
O problema é que, independentemente das estatísticas de segurança e das motivações da atual onda de assassinatos, existe uma crise que precisa ser resolvida.
E a solução não virá de bate-bocas estéreis como o que se viu ontem entre o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, e o secretário da Segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto. Ambos perderam uma oportunidade de ouro de exercer o sagrado direito de manter a boca fechada.
Como se sabe, Cardozo e todo o governo federal, quando se referem à situação, deixam claro que o problema tem origem no interior dos presídios paulistas, de onde partem as ordens para a execução de policiais. Presídio, como é do conhecimento geral, é assunto de responsabilidade do governo estadual.
Ao responder à provocação, o secretário deixa claro que a origem do problema está na vigilância precária das fronteiras, por onde entram as armas que os celerados utilizam em seus crimes. Fronteira, todo mundo sabe, é de responsabilidade da Polícia Federal.
A população não está interessada em saber se a responsabilidade pela onda de assassinatos em São Paulo é municipal, estadual ou federal. Também não quer ver a sua segurança se transformar em tema para antecipação da campanha para o governo do estado em 2014.
O que todo mundo quer é ver o problema resolvido e, para início de conversa, seria muito bom que o secretário admitisse que os presídios têm problemas e que o ministro reconhecesse que as fronteiras do país são uma peneira de malha grossa. Poderia ser o início da solução.
Fonte: Brasil Econômico, 01/11/2012
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