Neste início de ano, o noticiário econômico mundial foi marcado por momentos de tensão, em especial as discussões sobre o abismo fiscal americano, um conjunto de medidas voltadas para reduzir gastos e eliminar isenções fiscais nos EUA. Um acordo político evitou uma contração fiscal maior, mas a discussão continua, envolvendo cortes de gastos agendados para ocorrer em março e o limite de endividamento público, que este mês ganhou sobrevida de três meses.
De fato, na semana passada o Fundo Monetário Internacional divulgou documento em que a previsão de crescimento para o PIB global, já modesta, foi um pouco mais reduzida. As revisões negativas estão concentradas na Área do Euro — onde a desaceleração do nível de atividade chegou aos países centrais, em especial à Alemanha — e no Canadá, nos EUA e no Reino Unido. Também para os países em desenvolvimento, em particular na América Latina, as projeções do FMI ficaram mais pessimistas.
No todo, o desempenho econômico global deve ser em 2013 pouco melhor do que em 2012, ano com pior resultado desde o auge da crise, em 2009. Lembrando que as projeções do FMI, em geral, têm uma dose de otimismo — a previsão para o Brasil, por exemplo, é de expansão de 3,5%, contra alta de 3,1% prevista pelo mercado —, pode-se dizer, grosso modo, que o Fundo prevê para este ano uma repetição do resultado frustrante de 2012.
Porém, 2013 tem tudo para ser um ano bem melhor do que foi 2012, quando a economia ficou quase sempre sob a ameaça de algum choque de grande proporção, do calote de um país da Área do Euro à quebra de algum grande banco. A China, marcada por uma transição política complicada e a economia em desaceleração, foi outra fonte semipermanente de incertezas.
Há vários sinais de que, por trás dos números fracos do PIB, algumas mudanças importantes estejam por fazer de 2013 o início de uma recuperação, modesta, mas relevante, da economia mundial. É a esses sinais de melhora futura que as bolsas de valores globais — ainda que não a Bovespa — parecem estar reagindo. Que fatores são esses?
O FMI projeta uma recessão para a Área do Euro este ano: queda de 0,2%, em cima da contração de 0,4% de 2012. Não obstante, parecem afastados, pelo menos por ora, os principais riscos de ruptura que rondaram a região ano passado, como bem refletido na queda dos juros cobrados pelo mercado para rolar a dívida pública dos países em pior situação.
Sinal da melhora, esta semana os bancos europeus devem começar a retornar ao Banco Central Europeu, com dois anos de antecedência, parte significativa dos recursos tomados em empréstimo há um ano. Os governos da região também estão avançando na integração bancária e fiscal. Assim, ainda que não contribua para o crescimento global, a Área deve se tornar menos relevante como fonte de incertezas e de cenários de crise.
O bom desempenho da economia chinesa no fim de 2012 também afastou os receios de que o país poderia sofrer uma desaceleração descontrolada do PIB. A previsão do FMI é de uma expansão de 8,2% este ano, com inflação sob controle. O país parece ter convergido para uma trajetória de crescimento mais baixo, mas também mais consistente com uma população em idade ativa que parou de crescer e a necessidade de atacar seus sérios problemas ambientais.
Também nos EUA há notícias alvissareiras. O destaque é a recuperação do setor de construção residencial, que, depois de cinco anos em queda, começou a crescer no segundo semestre de 2011 e no terceiro trimestre de 2012 já apresentava expansão de 15% contra o mesmo período um ano antes. Os indicadores divulgados desde então apontam que essa retomada teve prosseguimento. A recuperação mostra que a política monetária, que jogou as taxas cobradas nas hipotecas imobiliárias para níveis bastante baixos, vem funcionando.
Também se observa uma valorização dos imóveis — o índice Case-Shiller, depois de cair 34% de abril de 2006 a janeiro de 2012, subiu 5,4% nos nove meses seguintes. Com a alta das ações, isso tem se traduzido em um aumento da riqueza das famílias, o que deve estimular o consumo e, em um segundo momento, o investimento corporativo.
No curto prazo, a melhora do cenário internacional será positiva para o Brasil. A grande questão, porém, é como o país será afetado pela mudança na composição do crescimento chinês e o enxugamento de liquidez pelos principais bancos centrais, quando a economia mundial acelerar. Mas essas questões só se colocarão depois de 2013.
Fonte: Correio Brasiliense, 30/01/2013
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