É erro comum se pensar que a pior fase de um ciclo econômico coincide com o ponto mais baixo da curva de negócios. Pelo contrário.
Todos os ativos especuladores que conheço – e há vários deles muito bons, e simpáticos leitores desta coluna – passam o tempo tentando decifrar os sinais indicativos de que “tudo já piorou o que tinha para piorar”.
É no momento mais agudo da crise que os grandes negócios se fazem: os preços dos ativos já se desvalorizaram, as cotações de bolsa estão arrastando no chão dos pregões, o custo industrial baixou com a forte queda dos salários e das matérias-primas, e o desalento toma das mentes indecisas e confusas, que veem a queda geral como véspera do juízo final.
Mas é prenúncio de retomada de negócios e ganhos espetaculares, mais adiante. Em contraposição, o momento atual é a véspera do desapontamento dos comprados.
É quando os governos ainda estrebucham pacotes econômicos estúpidos e anunciam ajudas a entidades quebradas, enquanto os especuladores ampliam suas apostas contra toda essa quimera de recuperação, ao passear pela longa lista de devedores, fazendo posições vendidas sobre seus papéis.
Hoje é a Itália; amanhã será outro país produtor de azeite – qualquer um serve -, tal como ontem também foi, e segue sendo, a Grécia. A palavra de ordem é desalavancar.
Quanto mais munição monetária os bancos centrais derem ao mercado, mais especulação haverá contra as intenções dos governos de fazer recuperar a economia mundial, por contrariarem o imperativo da desalavancagem: o cumprimento do rito de ajuste cíclico exige a queda de custos de produção, dos preços de matérias-primas e de salários.
Este último já começou a cair nos EUA, provocando dor e protestos. Mas tem que cair mais fortemente na Europa toda. E se espalhará pelo resto do mundo.
O perigo enxergado por uma mulher prática, como parece ser Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, é o mundo, empobrecido pela desalavancagem geral, afundar numa segunda espiral recessiva. Ela enxerga o risco, apela para o dinheiro de países emergentes ricos e tenta avançar no resgate dos entes soberanos em dificuldades.
Pena dizer que são manobras infrutíferas, pois o “timing” do esforço está errado. Nada impedirá que o próximo quadrante negativo do ciclo de negócios seja mais uma vez adiado por injeções maciças de moeda. Até o monetarista mais inflacionista do mundo – Ben Bernanke, do Fed americano – já entendeu isso.
A Grande Depressão não ocorreu tanto por incompetência quanto por ser um subproduto inevitável da brutal e insustentável alavancagem que a antecedeu. E, desta vez, o erro foi bem maior. Como, portanto, agora esperar sequelas menores?
O susto, no mercado brasileiro, vai ser grande quando as infladíssimas cotações de commodities começarem a buscar o rumo de casa. Ficará claro que o Brasil se preparou mal para a competição econômica global.
Tem um sistema tributário inconstitucional, apesar de legal, e insano, apesar de tolerado por todos, como foi o crime inflacionário praticado impunemente em décadas anteriores.
O governo conduz uma política econômica varejista. Teme realizar reformas enquanto é tempo. Nossos políticos são para lá de irresponsáveis e nós, loucos, por deixarmos que eles regulem nossas vidas.
Fonte: Brasil Econômico, 11/11/2011
É um quadro,senão assustador, ao menos altamente preocupante .
Quando a verdade vier à tona será tarde de mais para quaisquer reações do governo e da sociedade .Não será o fim ,mas será duro passar este momento que se avizinha,e que está anunciado a tempos .Basta ler os livros de história.