Há um notório contentamento em toda a sociedade em relação ao crescente número de pessoas com acesso às informações proporcionado pela internet. Milhões hoje podem consumir e produzir conteúdo através das diversas ferramentas encontradas na grande rede. Podemos, sem chance de erro, afirmar que nunca o mundo teve tantas possibilidades de participar do processo político e econômico. Algo essencial para a democracia.
Milhares de blogs, sites, portais e redes sociais recebem todos os dias um sem número de informações, que são produzidas e consumidas num piscar de olhos. A internet assomou como uma espécie de Ágora, visitada por grande parte dos cidadãos da Atenas que se tornou o mundo ligado à rede.
Os diálogos se tornaram possíveis graças a ferramentas interativas, como Twitter, Orkut e Facebook. As populações carentes, mesmo ainda desprovidas de internet banda larga, conseguem acessar a web graças às milhares de lan houses disseminadas por todas as partes do país e a programas públicos de inclusão digital. Apesar de não abranger todo o país, são quase 70 milhões de brasileiros interligados a informações e pessoas de todo o mundo.
A grande ágora possibilita a todos um papel, ainda que pequeno, na efetivação da democracia. Todos podem falar, reclamar, denunciar. Os limites, embora existam, são mínimos quando se nota o que tínhamos 10 anos atrás.
Toda essa explanação positivista tem um motivo de ser. Dá-se pela notória e retrograda disseminação de um bom número de pessoas pela própria internet dispersando seu rancor e descontentamento contra o capitalismo. Esses internautas são a maioria dos usuários, podemos dizer, “politizados”. Competem com uma pequena parte de idólatras do capitalismo, e de sua fundamentação teórica, o liberalismo – pessoas como este, que aqui escreve.
O caso é que a internet, fruto do capitalismo e da liberdade, tornou-se a sala de estar desses muitos anti-capitalistas. Como Schumpeter demonstrou décadas atrás, o capitalismo criou e continua a criar seus próprios algozes.
No entanto, não cabe aqui mostrar ressentimento contra esse turbilhão de insatisfeitos. Primeiro, porque seria recair em uma das principais atitudes dessa camada: o de recriminar e tentar silenciar seus adversários.
O interessante é que grande parte desses indivíduos vê na internet a possibilidade de desarticular os chamados “grandes meios de comunicação”. É uma forma, segundo eles, de democratizar a produção e o acesso à informação. Nada errado até aqui.
O problema está, na verdade, em atribuir o problema da concentração dos veículos de informação ao capitalismo. Como se defendêssemos a liberdade econômica exclusivamente para que se efetive a concentração da riqueza nas mãos de poucos. E não pelo progresso originado com a competição – própria do sistema capitalista.
Quando Joseph Schumpeter se imortalizou com sua teoria sobre o ciclo econômico, ainda estávamos longe da evolução da comunicação que vivemos na atualidade. Mas o economista já notara que, no sistema capitalista, algumas inovações cuidavam de alterar o estado de equilíbrio econômico. Isto se dá, entre outras coisas, em virtude de novas descobertas tecnológicas. Estas, por sua vez, modificam a economia, chegando até mesmo a desmontar monopólios.
A teoria de Schumpeter caberia muito bem numa análise acerca das mudanças atuais nos processos de comunicação no Brasil. Se milhões de pessoas hoje desfrutam da possibilidade de informar e ter acesso a informações antes inimagináveis – como as do Wikileaks, talvez – isso se deve às inovações próprias do capitalismo.
Alguém deveria, portanto, avisar aos muitos blogueiros e colunistas de sites como Vermelho, Carta Maior e Observatório da Imprensa que seu crescente contentamento com a internet tem forte relação com algo que tanto criticam: liberdade e capitalismo.
São esses dois fatores os principais responsáveis por nosso progresso. Diante disso, cabe às maiores redes de comunicação no mundo se adequarem às inovações econômicas e tecnológicas. Alguns já compreenderam e buscam se modernizar.
Em meio a isso, cabe refletir sobre a potencialidade da liberdade e do capitalismo para a efetivação do que chamamos participação democrática. Liberdade, como se vê, gera mais liberdade.
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