Desde a virada do ano, os mercados de risco (ações, commodities, petróleo) não param de comemorar, em altas sucessivas, o novo fim da crise. Os racionalistas, que enxergam os desequilíbrios persistentes no cenário, continuam perdidos na poeira do seu aparente pessimismo.
Os principais índices americanos mostram euforia: Dow Jones acima de 13.000 pontos, S&P 500 al de 1.350 pontos, Nasdaq passando de 3.000.
A economia produtiva dos EUA também exibe números animadores. Por isso, o Federal Reserve, na reunião desta semana, teria evitado confirmar uma terceira rodada de QE, o “afrouxamento monetário” tão desejado pelos apostadores na alta dos mercados.
A razão de não servir mais “caipirinha” turbinada é que a animação da festa já estaria de bom tamanho. Se o FED agora espera crescimento “moderado” em 2012, mais um motivo para comemorar. E as bolsas exibem recordes não registrados desde o enlouquecido 2008, que tinha esse tipo de euforia antes da quebra do Lehmann.
Há elementos de efetiva reação na economia americana. O sensível indicador de compra de automóveis tem tido um aumento consistente. O banco J.P.Morgan, cuja pesquisa é confiável, acaba de cravar a projeção de 2,3% para a economia americana em 2012, contra 1,7% em 2011.
O déficit fiscal cairia de 8,6% ano passado para 7,7% este ano, ainda altíssimo, mas numa rota descendente. O fator crítico continua sendo o ritmo da tal retomada.
Olhando as despesas de capital, o investimento privado não indica, por enquanto, uma recuperação robusta e planejada, embora alguns segmentos continuem avançando com força (equipamentos de informática e outros, onde há ganho de produtividade).
A evolução recente do preço do petróleo, mais 15% em dois meses, é um freio ao discurso de que estamos no “fim da crise”.
Além do risco político crescente, das tensas relações com o Irã somadas à instabilidade dos novos regimes no Oriente Médio, existe um fator de alta do petróleo que nos escapa: a enorme liquidez propiciada pelos bancos centrais, aliada a uma taxa de juro média mundial de apenas 2,1%, segundo levantamento do mesmo J.P. Morgan, que possibilita o carregamento, praticamente sem custo financeiro, de volumosas posições especulativas nos diversos mercados de risco.
O indicador do PIB mundial aponta um aumento de 3,5% em 2011, suavizando para 3.1% este ano, até retomar com mais força em 2013 (3,6%). Este seria um cenário de retomada sem sustos. No entanto, todos os riscos de instabilidade continuam presentes.
A própria recuperação americana, débil como é, tem seus pés fincados nos afrouxamentos monetários anteriores e na prática de juro zero.
Embora não haja um QE 3, está em curso um relaxamento monetário coordenado e fortíssimo de quase todos os bancos centrais do mundo. Não se sabe, portanto, qual seria o comportamento dos consumidores na ausência de estímulos tão fora do comum. Provavelmente, estariam bem mais encolhidos.
Com seus 2,7% de aumento de PIB em 2011, contra 4,3% da América Latina, o Brasil marca passo e perde a oportunidade de capitalizar o fato de estar do lado bom da crise financeira, por ser um supridor de commodities em alta. O nível de extração fiscal de rendas privadas para uso em gastos estéreis no setor público está na raiz do erro macroeconômico do nosso modelo de não-crescimento.
Fonte: Brasil Econômico, 16/03/2012
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