Num mundo onde as pessoas podem adquirir conhecimento online, as universidades não devem mais preparar seus alunos para o mercado de trabalho, mas ensiná-los a pensar. Essa é a aposta de Ben Nelson, fundador e diretor executivo do Projeto Minerva, que pretende revolucionar o ensino superior ao investir em um modelo flexível. Em agosto, os primeiros 29 alunos da instituição iniciaram o curso de um ano em São Francisco, na Califórnia, onde estudam matérias que estimulam o pensamento crítico, como Análise Empírica e Comunicação Multimodal. Depois, o grupo passará por sete cidades do mundo, para estudar a cultura local e formas de inovação, lançando o novo modelo de “universidade itinerante”.
Como surgiu a ideia do Projeto Minerva?
Quando eu era um estudante da Universidade da Pensilvânia, fiz um curso sobre a história das universidades. Foi ali que me deparei com a ideia de uma universidade reinventada. Vinte anos depois, essa ideia se transformou no Projeto Minerva.
Qual é o papel da universidade no século XXI?
As universidades devem tirar seu foco da disseminação do conhecimento — algo que hoje está disponível gratuitamente na web — para apostar no desenvolvimento intelectual dos estudantes. O objetivo deve ser a criação de líderes e inovadores em contexto global.
Dê um exemplo.
Em vez de prendermos os alunos em um campus por quatro anos, devemos colocá-los no mundo para viverem e aprenderem em grandes cidades. Em vez de lhes ensinar conteúdos que podem ser encontrados em livros e cursos online (MOOCs, em inglês), precisamos usar o tempo de aula para ensinar e reforçar conceitos fundamentais do pensamento. Somos a única universidade a ensinar aos alunos as habilidades que os levarão, gradualmente, a pensar criativamente e se comunicar de forma eficaz.
Como foi o processo de escolha do currículo?
O diferencial do nosso currículo no primeiro ano da faculdade é que nos concentramos em condicionar a mente a pensar em uma variedade de direções, em vez de apenas passar informações introdutórias. Nossos alunos são capazes de aprender o conteúdo básico por conta própria e, em seguida, usar esse conhecimento nas aulas para ampliar a maneira como pensam. Os jovens ganham a capacidade de explorar qualquer assunto que encontram e não apenas memorizar informações.
O Minerva avalia a evolução dos alunos?
Durante o primeiro ano, todos os alunos fazem as quatro matérias básicas, que apresentam os principais conceitos do pensamento, e são avaliados diariamente nessas disciplinas. A nota de um aluno é determinada de acordo com essa avaliação continuada. Já as médias do final do primeiro ano são provisórias e podem ser ajustadas para cima ou para baixo a cada semestre, dependendo da performance do aluno nos cursos.
Como o Minerva estimula seus alunos para que eles estudem por si só?
Engajamento é fundamental. Isso significa que as aulas precisam ser dinâmicas e interessantes para o aluno. Também significa que o conceito de testes como determinantes do desempenho acadêmico tem de mudar. Uma vez que 100% das nossas turmas têm menos de 20 alunos, o professor garante que todos estejam engajados em sala e sejam avaliados diariamente. Por isso, os alunos não podem “empurrar com a barriga”.
O projeto virá ao Brasil?
Esperamos ir a uma cidade brasileira no futuro, mas provavelmente não nos próximos anos.
Você teme que o mercado não reconheça os diplomas da Minerva?
Os empregadores estão insatisfeitos com a qualidade do ensino nas universidades tradicionais e têm demandado o tipo de educação que o Minerva oferece. Muitas empresas já estão se envolvendo com o projeto para ter acesso aos nossos estudantes.
Fonte: O Globo.
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