Por Juliana Bravo/ Líderes do Amanhã
Há poucos anos, questionou-se amplamente se o Bitcoin seria uma ferramenta eficaz na luta pelas liberdades. Quando a criptomoeda ainda não contava com muitos sectários, não detinha valor de mercado e não tinha muita aceitação global, sua utilização soava mais como uma utopia dos aficionados por tecnologia do que, de fato, uma alternativa viável para a transferência de valores fora do radar dos governos.
Hoje, não apenas o Bitcoin é mundialmente utilizado, como é verdadeira tábua de salvação econômica para pessoas que vivem em ditaduras e governos colapsados, caso de inúmeros jornalistas russos, feministas nigerianas, lideranças pró-democracia no Togo e professores afegãos. A maioria dos usuários, entretanto, é simplesmente de indivíduos que enxergam valor em uma rede financeira descentralizada, autônoma e incensurável. O simples apreço pela liberdade é o suficiente para que alguém veja com bons olhos a possibilidade de operar no mercado sem a permissão e o controle rígido do Estado.
É importante destacar que criptomoedas não performam na faixa de risco comum a outras operações patrimoniais. É preciso levar em consideração, por exemplo, a alta volatilidade de um mercado novo, o que exige do investidor atenção às máximas e mínimas históricas da moeda. Não é incomum que o preço do Bitcoin sofra grandes oscilações em um mesmo dia. Além disso, o valor atribuído à cripto não advém de órgãos reguladores, o que o torna um investimento arriscado caso o mercado decidir que ele não é mais valioso. Embora recheado de riscos, o Bitcoin é verdadeira expressão de liberdade, um vez que delega ao indivíduo a soberania sobre seu capital, independentemente da sua nacionalidade, sexo, posição política, religião, idade ou status social. Por meio dessa rede, comerciantes do mundo inteiro podem negociar sob seus próprios termos; trabalhadores podem enviar recursos para famílias que moram em outros países; empresas podem pagar funcionários de outros continentes.
É, precisamente, em economias não desenvolvidas que a criptomoeda exibe seu maior potencial. No câmbio paralelo das ruas de Abuja, capital da Nigéria, o dólar é negociado por cerca de $ 750 nairas, enquanto instituições regulamentadas o transacionam por meras $ 450 nairas. Muitas empresas africanas enxergam no Bitcoin uma saída para o envio e recebimento de valores a uma taxa de câmbio real que retira da equação intermediários à serviço da manutenção de fronteiras coloniais.
Essencialmente, o Bitcoin protege uma das liberdades mais fundamentais: a propriedade privada. Em poucos cliques, qualquer um pode transferir os próprios fundos sem a depreciação imposta pelos controles governamentais. Se a propriedade privada servia (e ainda serve) aos critérios do Estado – basta lembrar que no Brasil existe a figura da “função social da propriedade” – a matemática que rege o Bitcoin vem para entregar ao indivíduo a decisão de como dispor do seu patrimônio.
Apesar de algumas dificuldades na agilidade das transações e na usabilidade da interface, o Bitcoin vem conquistando cada vez mais adeptos em um mundo gradualmente sem dinheiro de papel, no qual os governos intensificam o controle sobre os cidadãos por meio de moedas digitais oficiais monitoradas por bancos centrais. Não se sabe se o Bitcoin veio mesmo para ficar, contudo, é inegável que tenha se transformado em hino para muitos ouvidos que lutam pela liberdade.