Um dos problemas centrais do Agronegócio brasileiro é a inexistência de políticas claras e unificadas para um segmento tão vital no cenário econômico do país.
Para se ter ideia da confusão que reina no campo, basta lembrar que três ministérios distintos (e, muitas vezes, de interesses tão antagônicos que nem parecem pertencer ao mesmo governo) têm poder de estabelecer diretrizes para o setor – cada um com sua própria agenda de interesses e nenhum com autoridade para definir políticas que resvalem na área do outro.
A princípio, o Ministério da Agricultura cuida da grande produção, o do Desenvolvimento Agrário tem a gestão da reforma fundiária e da “agricultura familiar”.
O do Meio Ambiente toma conta das reservas florestais e dos recursos naturais. Isso sem falar que a definição das políticas de crédito rural é feita pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central.
À primeira vista, a divisão teria como objetivo equalizar as forças conflitantes que convivem no campo. Na prática, ela acaba tornando o cenário mais entrelaçado e confuso do que cipoal em beira de rio.
É essa bagunça que motivou a proposta da criação de um Código Agroambiental para o país, apresentada no sábado passado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.
Um documento como esse, para dar certo, terá que ir muito além do que propõe o Código Florestal, que apesar da campanha “Veta, Dilma” não ficou pronto até hoje.
A proposta do ex-ministro, apresentada durante o Fórum Nacional de Agronegócios promovido pelo Lide na cidade de Campinas, parte de um princípio simples: a atividade agrícola não começa e termina no campo. Ela é uma rede que tem mais conexões com a cidade do que pode parecer à primeira vista.
Conforme lembrou Rodrigues, que é presidente do Lide Agronegócios, ninguém produz calças jeans sem fibra do algodão, assim como ninguém fabrica pneus para automóveis sem a borracha extraída da seringueira.
Há dezenas de exemplos de produtos extremamente urbanos que só existem porque, lá atrás, algum produtor rural deu o pontapé inicial. O fato é que muitos dos problemas que hoje penalizam os empresários rurais brasileiros têm suas causas a quilômetros de distância das fazendas.
De acordo com o presidente do grupo Bunge, Pedro Parente, os problemas de infraestrutura nas rodovias, nas ferrovias e nos portos brasileiros tomam do produtor a cada ano cerca de R$ 5 bilhões de sua renda.
Esse dinheiro, se não ficasse pela estrada afora, poderia ser transformado em recursos para o consumo ou para a poupança. Para resumir, os problemas do campo brasileiro não começam e terminam na fazenda.
Eles estão por toda parte e, quanto mais depressa o país perceber essa verdade, mais rapidamente conseguirá tirar proveito de uma oportunidade real para o desenvolvimento.
Fonte: Brasil Econômico, 25/09/2012
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