O governo promete para 2012 um crescimento maior que o do ano passado, puxado mais uma vez pelo mercado interno e dinamizado por investimentos em máquinas, equipamentos, construção imobiliária e obras de infraestrutura. Mais uma vez será preciso ver para crer nas mudanças mais importantes. Não será muito difícil um crescimento maior, depois do fiasco dos 2,7% em 2011. Mas também não será motivo para muita festa. Com a diferença da taxa de expansão econômica, as promessas de agora são as mesmas de um ano atrás. O balanço do ano passado mostra uma economia despreparada para um desempenho muito melhor. A taxa de investimento, 19,3% do Produto Interno Bruto (PIB), continuou insuficiente para uma longa fase de crescimento na faixa de 5% a 7% ao ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia para este ano uma elevação da taxa para 20,8%, 1,5 ponto acima da registrada em 2011. A previsão dos 20,8% apareceu no relatório Economia Brasileira em Perspectiva, divulgado pelo ministério no mês passado.
Se depender do governo, a parcela da renda aplicada na expansão e na modernização do sistema produtivo continuará muito abaixo da necessária. Em janeiro e fevereiro o Tesouro pagou investimentos no valor de R$ 3,6 bilhões. No ano passado, no mesmo bimestre, foram desembolsados R$ 4,7 bilhões. O ano começou, portanto, com um desempenho pior que o de 2011 nesse quesito. Mas em 2012, como no ano anterior, a maior parte do valor aplicado veio de restos a pagar, segundo levantamento da organização Contas Abertas. A mesma organização havia mostrado, em janeiro, o fracasso dos planos federais de investimento. Os desembolsos para o investimento orçamentário ficaram em R$ 41,9 bilhões em todo o ano passado, bem abaixo do valor aplicado em 2010, R$ 44,7 bilhões. Só essa rubrica diminuiu, porque as despesas de custeio aumentaram. A folha de pessoal e encargos, por exemplo, passou de R$ 183,4 bilhões, em 2010, para R$ 196,6 bilhões, em 2011.
Também as estatais investiram no ano passado menos que no anterior. Só aplicaram 79,4% dos R$ 103,8 bilhões programados para o exercício e mais uma vez o resultado foi garantido pelo esforço da Petrobrás. O setor privado continuou batalhando para elevar sua capacidade produtiva, mas com as limitações de sempre, a começar pelo peso da carga tributária. O resultado geral foi a manutenção de uma economia pouco eficiente e muito vulnerável à pressão da concorrência externa. O crescimento de apenas 1,6% da produção industrial, em contraste com um aumento de 4,1% do consumo privado, reflete essa deficiência, mas isso ainda não dá uma ideia bastante clara do problema.
O desempenho do setor industrial foi puxado pela mineração, com 3,2% de crescimento; pela construção civil, com 3,6%; e pela produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana, com 3,8% de aumento. A indústria de transformação, forçada no dia a dia a enfrentar a concorrência internacional, cresceu apenas 0,1%. Isto é, ficou estagnada, com uma variação de produto muito próxima de zero.
A política de crescimento puxado pelo mercado interno, tal como executada pelo governo, está claramente baseada num equívoco. O problema principal não está na demanda, mas na capacidade da indústria de transformação de atender ao mercado enfrentando a competição estrangeira. Essa capacidade é limitada não só pelo câmbio – o real valorizado encarece os produtos nacionais -, mas principalmente por uma porção de ineficiências estruturais muito bem conhecidas. A maior parte dessas deficiências é atribuível à baixa qualidade das políticas públicas (infraestrutura insuficiente e ruim, energia muito cara, custos trabalhistas elevados, distorções tributárias, escassez de mão de obra adequada, entraves burocráticos, etc.). Sem a solução desses problemas, uma expansão na faixa de 5% a 7% levará à inflação ou à crise externa.
A presidente Dilma Rousseff reclamou na Alemanha do tsunami monetário provocado pelos bancos centrais do mundo rico. Essa é uma das causas da valorização do real e de outras moedas de países emergentes. Ela está certa ao apontar o problema criado pela emissão excessiva de euros, dólares e libras, mas estaria ainda mais certa se cuidasse de eliminar as deficiências e ineficiências da economia nacional. O governo já estima para este ano exportações de apenas US$ 264 bilhões, apenas 3,1% maiores que as de 2011. Isso se deve principalmente à transformação do Brasil num país dependente das vendas de commodities, numa relação quase colonial com a China. Também isso é consequência de tolices econômicas e diplomáticas cometidas em Brasília. Não dá para culpar os bancos centrais do mundo rico por essas tolices.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 07/03/2012
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