Nas últimas duas colunas, abordei a minha leitura da aceleração do crescimento que houve no governo Luiz Inácio Lula da Silva em comparação ao período anterior.
Argumentei que houve aceleração da produtividade, isto é, a economia foi capaz de transformar as mesmas taxas de crescimento do trabalho e do capital observadas no período anterior em taxas maiores de crescimento do produto.
Interpretei a aceleração do crescimento como resultado da maturação de um enorme esforço reformador que houve nos oitos anos do governo Fernando Henrique Cardoso e nos três primeiros anos do governo Lula.
Adicionei que havia paralelismo entre essa sucessão de reforma e crescimento com o início do período militar, no qual o governo Castello Branco seria reformista e o governo Médici teria colhido os frutos das reformas.
Estamos em dezembro, fechando o primeiro biênio da Presidência de Dilma Rousseff. Do ponto de vista do crescimento, houve forte frustração até o momento.
Na última sexta-feira de novembro, o IBGE informou que a economia cresceu 0,6% no terceiro trimestre ante o segundo trimestre na série com ajuste sazonal. Foi uma grande frustração para todos os analistas -do mercado e do governo- e uma grande surpresa. As expectativas, do mercado e do governo, variavam de 0,9% até 1,3%.
Além do crescimento da economia como um todo, houve duas frustrações maiores.
Pela ótica da oferta, a grande frustração no terceiro trimestre foi o setor de serviços, responsável por 68% de todo o valor adicionado produzido em nossa economia, que apresentou crescimento nulo.
Pela ótica da demanda, a segunda grande frustração, e esta mais preocupante, foi a redução do investimento de 2% ante o segundo trimestre, também na série com ajuste sazonal.
O terceiro trimestre de 2012 foi o quinto consecutivo em que o investimento apresenta crescimento negativo. Novamente redução tão forte não era esperada. Nossa estimativa no Ibre-FGV era redução de 1%.
Ao capitalizar todas as taxas negativas desde o terceiro trimestre de 2011 até o terceiro trimestre de 2012, obtemos que o investimento a preços constantes, isto é, já desconsiderando o efeito da inflação, reduziu-se em 5,9% no período, enquanto o PIB cresceu 1%.
Houve redução da taxa de investimento, isto é, o investimento com proporção do produto. A taxa de investimento a preços correntes reduziu-se de 20% do PIB para pouco mais de 18% do PIB!
Quando olhamos os dados preliminares para o quarto trimestre, não é possível sermos otimistas com relação à recuperação do investimento. A produção da indústria de bens de capital, segundo a pesquisa industrial mensal do IBGE divulgada na semana passada, apontou recuo de 0,6% ante setembro.
Se considerarmos a média do trimestre de agosto até outubro ante o trimestre imediatamente anterior, de maio a julho, houve redução de 0,2% na produção da indústria de bens de capital.
Os dados de sondagem da indústria do Ibre da FGV referente a novembro indicam que os estoques indesejados da indústria de bens de capital estão elevados e em nível próximo ao observado no pior momento em seguida à crise de 2008, enquanto houve acumulação de estoques indesejados na indústria de material da construção civil.
A importação de máquinas e equipamentos, que foi forte em outubro, aparentemente perdeu força em novembro (segundo os dados de valor das importações divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), de sorte que a melhor previsão que fazemos hoje para o crescimento do investimento no quarto trimestre de 2012 ante o terceiro é de um novo recuo de 1%.
O quarto trimestre será o sexto seguido com retração do investimento, e o ano de 2012 fechará com recuo do investimento de 4,4% em relação à média de 2011.
A conclusão desta coluna um tanto quanto aborrecida -cheia de números de divulgações recentes de órgãos oficiais e de projeções para o futuro mais próximo- é que a retomada do investimento ficará para 2013. No momento, essa retomada constitui pensamento positivo. Não é possível enxergá-la no horizonte.
Fonte: Folha de S. Paulo, 09/12/2012
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