O fraco resultado do PIB em 2012 tem sido atribuído a dois setores: a indústria de transformação e a agropecuária, cujos PIBs setoriais contraíram 2,5% e 2,3%, respectivamente. A queda do PIB de manufaturados é, em geral, explicada pela pressão das importações e pela menor produção de ônibus e caminhões. Por sua vez, a quebra da safra agrícola, em função de fatores climáticos, explica o mau desempenho da agropecuária.
A expectativa de recuperação do PIB este ano está calcada na projeção de um bom desempenho desses dois setores. Assim, o mercado prevê que a produção industrial cresça 3,0% em 2013, contra queda de 2,7% em 2012, e que o PIB agropecuário aumente 4,1%, mais do que se compensando a contração do ano passado.
Essa me parece uma leitura bastante incompleta da forte desaceleração da economia brasileira entre 2010 e 2012. Em especial, ignora-se que envolveu uma significativa perda de dinamismo de um grupo de setores que, puxados pelo crédito, lideraram a expansão da economia na segunda metade da década passada.
Entre esses setores, destacam-se a construção civil, o comércio, os transportes e a intermediação financeira. Juntos, eles responderam por 2,9 pontos percentuais da queda de 6,1 pontos percentuais observada no crescimento do PIB a preços básicos entre 2010 e 2012. Nessa mesma comparação, a agropecuária e a indústria de transformação foram responsáveis por 2,4 pontos percentuais da retração da taxa de expansão da economia.
Entender o que causou a perda de dinamismo desses quatro setores, que não sofrem com a competição das importações nem com as oscilações climáticas, é essencial não só para explicar o passado como para projetar adequadamente para onde vai a economia brasileira este ano. Em especial, há que se notar que os indicadores de confiança empresarial para os setores de construção, comércio e outros serviços vêm em queda, em contraste com a recuperação observada na indústria de transformação. Na mesma toada, os consumidores também reportam uma percepção de desaceleração nesses setores, com a criação de menos vagas de emprego.
O menor crescimento desses quatro setores parece resultar de uma combinação de forte alta nos custos com uma expansão mais lenta do crédito. A alta em itens como salários e aluguel, por exemplo, tem pressionado as margens, mesmo em setores com maior flexibilidade para repassar esses aumentos para os preços. Esse parece ser o caso do setor de construção, em que o rendimento real das pessoas ocupadas aumentou 29% entre 2008 e 2012, contra uma média de 13% para o conjunto dos trabalhadores.
Tão ou mais importante, porém, tem sido a alta mais moderada do crédito, em especial dos empréstimos ao consumidor. Nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2013, o saldo total de crédito bancário aumentou 9,9% em termos reais, contra 14,0% dois anos antes. Essa queda foi especialmente pronunciada no crédito ao consumidor, para o qual essas taxas foram de, respectivamente, 3% e 13,7%. De fato, em que pese o ritmo mais lento de expansão da construção civil, o setor imobiliário é, com o rural, o único segmento de crédito às pessoas físicas que mantém um rápido crescimento, essencialmente com base em recursos direcionados.
Vários fatores contribuem para essa perda de dinamismo do mercado de crédito. A elevada inadimplência no crédito ao consumo, que tem se mostrado mais resistente do que se previa, é uma delas. O crédito para a compra de veículos, em especial, parou de aumentar em termos reais, em função dos excessos de alguns atrás. Outro fator é o elevado comprometimento da renda das famílias com o serviço das dívidas já contraídas, que, com a piora na confiança do consumidor, reduz a demanda por novos financiamentos.
Finalmente, há que se considerar que a forte pressão para a redução dos spreads também pode ter ajudado a limitar a oferta de crédito, a partir da virtual inviabilização de operações com clientes de maior risco, que perderam atratividade. Uma evidência nesse sentido é que o saldo total de crédito das instituições privadas aumentou apenas 2%, em termos reais, nos 12 meses findos em fevereiro, contra alta de 21% nos empréstimos dos bancos públicos.
Com o balanço dos bancos públicos bastante comprometido, como indica o rebaixamento da nota de risco de crédito da CEF e do BNDES, o mercado de crédito pode continuar a perder dinamismo em 2013, afetando os setores que lideraram a expansão do PIB até 2011.
Fonte: Correio Brasiliense, 27/03/2013
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