A decadência política brasileira é dramática. O ocaso foi rápido. Sim, houve um tempo – e não faz muito – que ir aos Parlamentos, antes de um gesto de participação cívica, representava um ato de elevação cultural; personalidades políticas de fina linhagem intelectual debatiam temas candentes com rigor técnico e visão de mundo. Poucas décadas correram e o Congresso Nacional, não raro, é pior que rasas discussões à mesa de bar. Aliás, na boemia, sempre é possível encontrar o encanto de uma bela mulher, enquanto que na política de hoje o desencanto é generalizado. Como isso aconteceu? Onde foi que nos perdemos?
Ora, um problema complexo não possui um único motivo, sendo justamente a soma de causas e concausas que gera a complexidade de uma dada situação. Em uma necessária avaliação histórica, é inegável que o regime autoritário gerou malefícios ao tecido político brasileiro. Não custa lembrar que, por ato império, os partidos foram extintos, criando-se um ornamental bipartidarismo de ocasião. Assim, por um sopro, toda aquela estrutura orgânica partidária – que vinha sendo criada a muito custo após o Estado Novo – ruiu ao sabor de arbítrios momentâneos. E, sem bons partidos, ficou impossível produzir bons políticos.
Frisa-se, ainda, que os longos anos do regime ditatorial sufocaram o dever primordial da democracia política: a participação diária, séria e engajada dos cidadãos nos assuntos da vida pública nacional. A apatia de nosso povo é palpável, embora comecem a surgir alguns soluços de engajamento direto. No todo, temos que olhar para frente. Sem remoer culpas do passado, precisamos ir adiante e construir o futuro, trabalhando com decência e coragem nas lidas do presente. O amanhã se faz agora, sendo fundamental rompermos a inércia que nada produz. Sem cortinas, esperamos muito da política, mas acabamos fazendo muito pouco pela democracia.
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Ao lançar sua candidatura à presidência em 16 de março de 1968, Robert Francis Kennedy afirmou que iria ser candidato não para se opor a alguém, mas para “propor novas políticas”, para “defender a esperança em vez do desespero”, para “a reconciliação dos homens” e, ao final, mudar o desastre das “políticas divisivas”. Diante da gravidade daquele momento histórico, Bobby Kennedy asseverou que “estes não são tempos ordinários e esta não é uma ordinária eleição”. No cinquentenário da morte de RFK, suas palavras servem de luz para a grave realidade brasileira.
Objetivamente, não podemos mais continuar com a pobreza espiritual que governa nosso país. Os desafios do presente impõem a urgência de novos e melhores hábitos. O Brasil de bem não mais pode se calar para o governo dos maus, dos corruptos, dos desonestos e dos vendilhões da pátria. O momento exige união e trabalho conjunto. Uma grande nação não é obra do acaso, mas a soma de virtudes e ideais vencedoras firmemente comprometidas com a elevação dos bons costumes, com a cultura e educação do povo.
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Todo grande democrata deve ter consigo uma firme missão interior: levar esperança às pessoas. E, quando não se fala a verdade, é impossível conquistar a confiança do povo. Chega, portanto, de tanta hipocrisia. A sociedade está cansada das mentiras de sempre, dos discursos enfadonhos e da teatralidade dos profissionais do voto. Ao final do dia, após viverem as dores da realidade, as pessoas querem chegar em casa e ter alguém para acreditar, fazendo-as confiar no ideal de uma vida melhor. No deserto da honra política, jamais o poder da palavra sincera foi tão importante para o competente renascer do Brasil.