Pela força da primeira leva de denúncias que o atingiram, pouca gente, na sexta-feira passada, seria capaz de apostar que Orlando Silva iniciaria esta semana à frente do Ministério do Esporte.
Afinal, eram fortes os sinais de irregularidades que indicavam, para dizer o mínimo, uma generosidade excessiva com aliados. Silva balançou, balançou, mas não caiu – porém, é pouco provável que resista muito tempo no cargo.
Todos os ministros que perderam o posto no governo da presidente Dilma Rousseff, com exceção de Nelson Jobim (derrubado pela própria língua), tiveram uma sobrevida maior do que parecia razoável diante das denúncias contra eles.
Os outros que deixaram o posto, com exceção de Antonio Palocci (que foi para casa por não conseguir explicar o próprio enriquecimento), perderam o emprego porque, assim como Silva, foram flagrados em atos que beneficiavam aliados.
Isso mesmo: na ponta final dos escândalos que custam cargos aos ministros de Dilma, sempre há uma entidade ou uma empresa ligada por laços de amizade ou de afinidade política com o titular da pasta. Alguns dirão que essa relação promíscua entre quem libera e quem recebe o recurso é a cauda do problema. E talvez seja mesmo.
O certo, porém, é que tudo isso é consequência direta do loteamento de cargos da Esplanada dos Ministérios. Numa descrição um tanto tosca, a situação é mais ou menos a seguinte: em troca de votos no Congresso, o governo oferece a algum partido da chamada “base aliada” um determinado quinhão no ministério.
O nomeado, uma vez no cargo, preenche os postos de primeiro escalão com aliados. Esses, por sua vez, indicam outros aliados para ocupar os postos secundários (no Brasil, existem milhares e milhares de cargos públicos que podem ser preenchidos pelo pistolão político, sem que o nomeado precise demonstrar aptidão para a função).
E assim, de companheiro em companheiro, acaba sendo criado um sistema que favorece o compadrio e rende frutos na hora da assinatura de convênios, da escolha de parceiros e da liberação dos recursos.
Na pressa em favorecer os correligionários, os ocupantes dos cargos mostram-se pouco exigentes na prestação de contas – e é justamente esse descuido que acaba, no final das contas, facilitando a apuração das denúncias e custando o cargo ao ministro. Foi assim nos Transportes e no Turismo. Talvez venha a ser assim no Esporte.
O sistema de loteamento permite que o dinheiro público irrigue as contas de aliados, mas também facilita a apuração das denúncias. Afinal de contas, sempre existe entre os amigos envolvidos nesse tipo de história um descuidado que põe tudo a perder.
Quando o PCdoB ganhou o Esporte, ainda no governo Lula, o ministério era inexpressivo e parecia talhado ao tamanho de um partido que faz muito barulho mas tem pouco a oferecer ao governo naquilo que realmente conta: votos no plenário. Com a Copa e a Olimpíada, o que parecia um prêmio de consolação tornou-se a sorte grande para quem tem a oferecer apenas 16 votos no plenário.
O PR tinha 40 deputados, e mesmo assim perdeu o Ministério dos Transportes. Silva ainda está ministro. Mas talvez não resista à nova onda de denúncias. Que certamente virá. Afinal, uma das características de seu partido – fazer muito barulho – pode se voltar contra ele neste momento.
Fonte: Brasil Econômico, 25/10/2011
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