O vazamento de petróleo ocorrido no pré-sal nunca será tratado com a mesma facilidade que um acidente similar em águas menos profundas
O pré-sal acaba de dar seu primeiro soluço. A Petrobrás informou que aconteceu um vazamento de pequenas proporções na Bacia de Santos, na área de prospecção conhecida por pré-sal.
O que poderia se abater como uma tragédia de proporções sérias, como foi o vazamento de petróleo no Golfo do México, parece ter provocado reações bem mais amenas, se exteriorizando num vazamento pequeno, sem muito impacto, que possibilitou o imediato fechamento do poço onde aconteceu o incidente, ao que parece, sem nenhuma outra consequência, de acordo com a Petrobrás.
Mas, por menor que ele tenha sido, aconteceu um acidente que gerou perdas. Em linguagem de seguro, um sinistro, ou um evento que gera prejuízo econômico.
No caso, não há como contestar: a Petrobrás perdeu pelo menos o dinheiro investido na perfuração do poço fechado, além de pagar os custos de limpeza e a multa que lhe foi imposta.
Se o total dos prejuízos é muito ou pouco, dentro da relatividade envolvida num negócio do tamanho da exploração do pré- sal, seus valores serão ínfimos diante dos totais dos investimentos e das receitas esperadas.
Mas isso não significa que o sinistro não tenha ocorrido ou que o poço fechado, na melhor das hipóteses, não represente um atraso na exploração economicamente viável do que pode ser o salto que o Brasil necessita para ingressar no clube fechado dos grandes produtores de petróleo.
Até aqui, estamos no terreno do suportável, do factível, do inesperado tratado com competência. Um vazamento de pequenas proporções, rapidamente detectado, obrigou ao fechamento de um poço em águas profundas, no litoral brasileiro, o que foi feito, segundo a responsável por ele, a Petrobrás.
Quando do afundamento da plataforma P36, um dos maiores sinistros já acontecidos no Brasil e um marco na história do seguro internacional de plataformas de petróleo, entrei em contato com alguns grandes especialistas no assunto, que atuam no mercado de Londres, e por eles tive a satisfação de saber que a Petrobrás é tida internacionalmente como uma das mais eficientes petroleiras, quando o tema é prospecção marítima.
Quer dizer, a gigante brasileira está no mais avançado estado da arte quando o assunto é prospecção de petróleo nas águas do oceano. Não deve nada a ninguém no que tange ao conhecimento técnico, competência e capacidade operacional.
Mas isto não a torna imune a erros, nem lhe dá a certeza de que um sinistro no pré-sal será tratado com a mesma facilidade que um vazamento em águas menos profundas.
Facilidade que – à luz do que ocorreu no Golfo do México no recente acidente com a plataforma da BP, outra gigante do setor – mostra-se no mínimo enganosa, além de custar muito caro.
O soluço do pré-sal precisa ser levado a sério. Da mesma forma que aconteceu um vazamento pequeno e que parece ter sido controlado como imediato fechamento do poço, no futuro poderá ocorrer um evento de dimensões gigantescas, tanto pelo volume de óleo derramado no fundo do oceano, como pela dificuldade de controlar o vazamento.
O Brasil não tem um plano de emergência para acidentes desta natureza. Não que um plano, por mais bem feito que possa ser, diante da realidade de um acidente, seja sempre eficiente, ainda mais quando se trata de atividade nova, com pouca experiência e extremamente delicada, como é a prospecção de petróleo na região do pré-sal.
Mas um plano bem detalhado, prevendo as situações possíveis e as soluções mais adequadas, com base na melhor técnica, seria um primeiro passo importante, tanto para melhorar as condições de proteção das águas brasileiras, como para desenvolver ações eficientes no caso de um acidente.
Mais que isso, seria um aval para a contratação dos seguros indispensáveis para a operacionalização do pré-sal brasileiro em condições de garantias e preço compatíveis com as possibilidades empresariais e com a necessidade de competitividade deste petróleo no mercado internacional.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 13/02/2012
E é sobre esse evento que o novo regente do Mec apóia o seu plano de reformas para esta tragédia nacional que é a Educação básica.