A transparência é um dos quatro princípios da governança e está relacionada a importância da informação na tomada de decisões. Onde inexiste, propicia assimetria de informações, desequilíbrio de forças e comportamento escuso (Joseph Pulitzer: “There is not a crime, there is not a dodge, there is not a trick, there is not a swindle, there is not a vice which does not live by secrecy.”).
De acordo com Ronald A. Howard, apesar da melhor decisão não garantir o melhor resultado, melhores decisões ainda são a melhor alternativa para a obtenção dos melhores resultados. E melhores decisões são o resultado do aprimoramento dos processos decisórios. Sendo o processo decisório um procedimento lógico de avaliação de alternativas, seu aprimoramento dependeria do aprofundamento dessas avaliações de alternativas.
Porém, atualmente, com o advento da internet e o maior acesso à informação, o aprimoramento dos processos decisórios passou a exigir mais que o aprofundamento das avaliações de alternativas. A ideia da total transparência, ou radical transparency, é a de que o compartilhamento do raciocínio lógico de cada indivíduo durante o processo de avaliação de alternativas, possibilita argumentações melhores fundamentadas e interações mais pontuais e efetivas, possibilitando assim a construção, dinâmica e conjunta, de decisões ainda melhores. Nesse sentido, a total transparência tende a descentralizar o processo decisório (inclusive com interferência externa às organizações), aumentar o engajamento e o consenso (palestra sobre radical transparency por Ray Dalio).
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Um exemplo da importância da divulgação do raciocínio lógico por trás dos processos decisórios na era do radical transparency é a discussão recente acerca de suspensões e banimentos de perfis de forma discriminatória por parte de sites como Facebook e Twitter.
Todavia, o exercício de colocar a própria opinião à prova não é tão fácil. É um exercício de humildade e desapego, pois sujeita-se pessoalmente à crítica pelo objetivo de construir uma melhor opinião conjunta. Mas acredito ser o caminho. Como comentei em outra publicação minha, a resposta ao contraditório possibilita o exercício do pensamento e o constante aprimoramento das argumentações e opiniões.
Obviamente, não se mudam organizações sem se mudar as pessoas que delas são parte integrante. A total transparência exige indivíduos totalmente transparentes. Com o avanço da internet, a exposição de tudo e de todos é inevitável, e a simples assunção de erros, insuficiente. Todos devem se colocar como humanos e imperfeitos e permitir maior ênfase no objetivo comum que buscam. Esse é um caminho de menor controle sobre o resultado, mas ao mesmo tempo, de resultados melhores (palestra sobre a nova liderança por Alexi Panos).
Concluindo, quanto mais transparência se conquista, mais transparência se exige. É um princípio fundamental que tende a se consolidar e a transformar o mundo, as organizações e a nós mesmos.
Por mais transparência nas decisões de órgãos colegiados