E se o salário mínimo aumentasse para R$ 6 mil? Recentemente, o Dieese divulgou que esse seria o valor ideal para contemplar todas as necessidades dos brasileiros. Mas não levou em conta o que aconteceria se esse aumento fosse concedido do dia pra noite. A gente levou. Segundo Pedro Trippi, um dos especialistas do Instituto Millenium, aconteceria o seguinte:
1) Aumentaria o desemprego e a informalidade;
2) Teria custos fiscais elevados consumindo recursos que poderiam ser alocados em políticas com maior penetração nos mais pobres;
3) Não teria impacto significativo na redução da desigualdade e da pobreza.
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Isso por que o salário mínimo deve acompanhar a produtividade do trabalho. Se ele crescer acima da produtividade, a consequência será aumento do desemprego, da informalidade e piora na alocação de recursos. Você, como empresário, contrataria por R$ 6 mil (mais os encargos, que quase dobram esse custo) alguém que só aumenta o seu faturamento em R$ 2 mil? Caso esse aumento fosse imposto na canetada, duas coisas poderiam acontecer:
1) Empregador repassaria o custo extra em seu produto final, aumentando os preços para o consumidor. Em pouco tempo, o salário de R$ 6 mil teria seu poder de compra derretido, sendo necessário novo aumento. Mais ou menos como vem acontecendo na Venezuela.
2) Empregador não teria espaço para aumentar os preços nesta proporção e acabaria enxugando a equipe ou quebrando. Em ambos os casos, o desemprego cresceria.
Existem limites para a valorização do salário. No caso do Brasil, dada a baixa produtividade do trabalhador brasileiro e o grande esforço já feito nesta direção desde o início do Plano Real, temos muito pouco espaço para isso. O SM no Brasil corresponde a aproximadamente 75% do salário mediano da economia. Nos EUA, equivale a 34%, e a média da OCDE é de 53%. O salário mínimo é pouco sim, mas precisamos lembrar que estamos num país pobre, onde ele corresponde a mais que o dobro da renda média de 20% da população. Parece piada de mau gosto, mas a verdade é que reajustes reais no mínimo não terão penetração significativa nos brasileiros mais pobres.
Além disso, uma série de benefícios pagos pelo setor público são vinculados ao SM. Cada 1% de elevação do SM aumenta em R$3 bilhões o gasto primário da União. Ou seja, um aumento de 10% já consumiria todos os recursos do Bolsa Família.
O trabalhador brasileiro ganha pouco porque produz pouco. E isso tem uma série de motivos, que vão desde a baixa qualidade da educação, até o péssimo ambiente de negócios no Brasil, que eleva os custos e cria entraves para a produção de riquezas. Todos queremos que o trabalhador melhore seu poder de compra, mas não é possível vencer a pobreza sem criar riquezas.