Um dos pontos cruciais para o debate envolvendo cotas raciais é o de saber o que torna um país racista. Para um país ser considerado efetivamente racista, é preciso que haja uma ideologia disseminada e consolidada por meio de leis, de programas de governo e de decisões judiciais, aceita pela opinião pública, inspiradora de movimentos, partidos e associações, tal como aconteceu, de fato, nos Estados Unidos, quando o Estado dividiu os direitos com base na cor da pele e simplesmente assumiu como correta a segregação institucionalizada, aceita inclusive pela Suprema Corte (caso Plessy vs. Ferguson , 1896, em que um cidadão foi impedido de sentar em um vagão destinado a brancos porque pela regra da ascendência ele era considerado negro. A Suprema Corte disse que a segregação era constitucional e compatível com o princípio da igualdade).
Quando afirmo que o Brasil não é um país racista, não quero dizer que não haja manifestações de preconceito ou de discriminação, mas que tal prática é repudiada pelo cidadão médio que compõe a sociedade. Pode-se afirmar, sem receios, que os Estados Unidos se constituíram em um país altamente racista, porque a segregação era legal, jurídica, institucionalizada, com a presença constante e apreensiva de organizações que pregavam o ódio em relação aos negros e a expulsão dos indivíduos de cor do país. Mas será que o mesmo pode ser afirmado em relação ao Brasil?
O preconceito, de forma isolada, somente seria capaz de provocar alteração na distribuição dos direitos com base na cor dos indivíduos se houvesse na sociedade brasileira a predominância de uma forte ideologia discriminatória, a ponto de produzir a deficiente representação dos negros nos empregos melhor remunerados e nas universidades. Todavia, a realidade sugere a ausência de meios concretos de tal propaganda ideológica. Não há relevantes e conhecidas organizações contra os negros no Brasil, nem mesmo movimentos sociais que objetivem a eliminação do negro da sociedade, tal como acontecia com a Ku Klux Klan e com o Conselho dos Cidadãos Brancos, nos EUA. Do contrário, no Brasil o que se percebe é um esforço nacional e conjunto visando a promover a integração e a solidariedade entre as culturas as mais distintas, e um número cada vez maior de instituições públicas, entidades particulares e organizações não- governamentais unidas para promover a inserção dos negros ao mercado de trabalho, qualificando-os e concedendo-lhes a estrutura mínima para que aspirem a melhores condições de vida.
Pesquisa recente da Fundação Perseu Abramo aponta que 96% dos brasileiros se declaram não-preconceituosos. Este número pode ser um engodo, mas é no mínimo revelador sobre o fato de o brasileiro ter vergonha de sentir preconceito e de atuar de maneira discriminatória.
Diferentemente do que acontece no Brasil, nos Estados Unidos ser negro não é sinônimo de ser pobre. Com efeito, se por um lado a política segregacionista promoveu o ódio entre as raças, por outro fez surgir de maneira incipiente movimentos negros organizados, o que facilitou a ascensão social dos negros no País. Na medida em que os negros se fecharam em castas, somente iguais puderam conviver entre eles. Assim, surgiram Igrejas somente para negros, bem como escolas, clubes, bancos e Universidades. Se uma empresa fosse de um negro, a maioria dos funcionários também o seriam. Com isso, foi possível desenvolver-se uma classe média negra que não encontrou semelhança no Brasil. Dessarte, podemos encontrar a solução para os nossos problemas sem termos de partir para a importação de modelos. No Brasil, na medida em que se integrarem os pobres, certamente os negros serão beneficiados, pois dentre os nossos pobres, 70% são negros, sem termos de correr os riscos relativos à racialização institucionalizada.
O estado brasileiro era um país racista na época da escravidão,pq apesar de não haver leis que instituia a escravidão,o estado era OMISSO a essa brutal situação que era o tráfego negreiro e a escravidão.A OMISSÃO do estado brasileiro e tão grave quanto a segregação intitucionalizada nos Estados Unidos.O nosso Brasil como sempre o preconceito, a discriminção racial e o racismo se coloca de maneira bem difernte do americano.
Dra:Roberta,que tal a senhora num próximo artigo abordasse a OMISSÃO do estado brasileiro a escravidão e ao tráfego negreiro!!!
hahaaconcordo plenamente