Nos anos 1970, na época em que o Japão era o que a China é hoje (uma “locomotiva de crescimento”), atribuía-se a Kuznetz, um conhecido economista, a frase “Há quatro tipos de países: desenvolvidos, subdesenvolvidos, Japão e Argentina”. Um, uma ilha arrasada na Segunda Guerra Mundial e que se tornou uma potência econômica; e outro, um país que tinha tudo para dar certo e se perdeu nos descaminhos da História.
Brincadeiras à parte, a questão “o que leva um país progredir?” é certamente uma das perguntas mais importantes da Economia. O que não quer dizer que a resposta seja única nem, muito menos, isenta de controvérsia. De forma muito resumida, porém, dois séculos e meio de desenvolvimento da teoria econômica e uma série de aprofundamentos da literatura nas últimas décadas permitiram chegar às seguintes conclusões que, se não são consensuais, pode-se dizer que, em linhas gerais, representam o denominador comum da maioria dos especialistas:
1 — Competição faz diferença. É o afã de superação e o receio de perder o emprego para o vizinho, market share para a concorrente e exportações para outro país que faz os trabalhadores, as empresas e os países, respectivamente, tentarem se aprimorar permanentemente para não cair na zona de conforto;
2 — Investimento exige níveis elevados de poupança doméstica. Um país que cresce com base em poupança externa é como uma empresa com alavancagem excessiva: cedo ou tarde, seu dinamismo decai. Não há como crescer de forma saudável sem investimento e, sem uma poupança doméstica elevada, ele acabará sendo financiado por recursos externos que um dia serão escassos e cuja falta causará uma crise;
3 — Infraestrutura é chave. Energia para investir; estradas, hidrovias e ferrovias para escoar os produtos; saneamento para dar saúde e dignidade à população etc. são as marcas de uma economia próspera, que não fique relegada à série B do Terceiro Mundo;
4 — Educação é fundamental. Embora seja verdadeiro que muitos países (Brasil no passado ou China nos últimos 40 anos) cresceram com uma educação precária, não há nenhum país que tenha ultrapassado o que a literatura chama de “armadilha da renda média” (o desafio de deixar de ser um país intermediário e entrar para o “clube” dos desenvolvidos) sem uma educação maciça e de qualidade, especialmente relevante no mundo de hoje, no qual a expressão “exclusão digital” explica as consequências do atraso educacional;
5 — O gasto público tem que ser eficiente. Eliezer Batista já dizia há décadas que “país pobre não pode gastar dinheiro em porcaria”. Medir bem cada recurso gasto, em um ambiente de escassez de recursos, é essencial para melhorar a eficiência de um país;
6 — É preciso ter equilíbrio macroeconômico. Contas públicas sob controle, inflação baixa e situação de balanço de pagamentos confortável são hoje requisitos sem os quais dificilmente a expansão da economia deixará de ser efêmera; e, last but not least;
7 — Instituições contam. No mundo de hoje, a vigência do que os anglo-saxões denominam de “rule of Law”, confiança no sistema judicial, ausência de coerção governamental, regras claras etc. forma parte do meio ambiente ideal para a proliferação de bons negócios e do progresso.
A simples olhada para essa lista mostra a dimensão dos desafios que temos que vencer no Brasil. Temos uma economia fechada, protegida e com pouca competição; uma poupança ridícula; uma infraestrutura péssima; uma educação de dar dó; uma ineficiência gritante do gasto público; uma situação macroeconômica que, devido à situação fiscal, inspira cuidados; e instituições que em parte funcionam, mas cuja “metade vazia do copo” nos levou ao “G-4” no campeonato mundial das — para usar um eufemismo — irregularidades administrativas.
Há alguns anos, entrevistado neste jornal, o então primeiro-ministro da Suécia deu o seu recado: “Vinte anos de reformas, focando em competitividade, aumento da igualdade nas instituições e na tomada de decisões e combate à corrupção. Coloque as finanças em ordem, faça reformas completas, abra mercados, adote esquemas para inovação, invista em pesquisa e desenvolvimento e no sistema educacional” (“O Globo”, 27/01/2013). Aqui, os desafios que temos pela frente são dignos dos 12 trabalhos de Hércules.
Fonte: “O Globo”, 03/10/2017.
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